De Saulo Feitosa
De assassinos a heróis do Lula (um desabafo entre amigos).
Meus queridos companheiros,
Somente agora, setenta e duas horas depois consigo parar e dar evasão à minha indignação ante a canalhice do presidente da República, ex-retirante da seca, ex-operário, ex-líder sindical, ex-lutador das causas dos pobres, ex-cidadão digno de respeito por seu passado de lutas. Enquanto seu antecessor ao chegar ao Planalto pediu que esquecessem o que escreveu, esse agora nega a sua origem de nordestino expulso pelo latifúndio e nos pede para esquecermos que os usineiros são bandidos e, ao mesmo tempo, condecora-os com a medalha de heróis nacionais. AGORA CHEGA!
Já ouvimos muitas sandices desse deslumbrado palaciano, que embasbacado pelo luxo e poder começou a desqualificar tudo que é digno de respeito e valorizar o indigno, injusto e asqueroso. Transformou índios e quilombolas em entraves, rotulou de loucos os homens e mulheres com mais de 60 anos que continuam lutando por mudanças e acreditando num outro mundo possível...
Aos amigos, peço desculpas pela aspereza textual, mas eu sou filho do nordeste e conheço a opressão sofrida pelo povo que vive nos canaviais. Durante os anos de minha juventude usei muitas camisetas brancas com inscrições em vermelho denunciando o “açúcar com gosto de sangue”. Mais do que isso, participei de vários sepultamentos de cortadores de cana vítimas dos pistoleiros das usinas, num tempo em que reivindicar direitos trabalhistas era o mesmo que assinar sentença de morte. Famílias inteiras foram queimadas entre as canas.
No dia em que o presidente pronunciou tamanha blasfêmia, fiquei a rememorar as cidades da zona canavieira dos estados de Pernambuco e Alagoas onde eu estive para acompanhar funerais de lavradores: Quipapá, Palmares, Novo Lino, União dos Palmares, Ribeirão e em algumas delas mais de uma vez. Os mandantes dos assassinatos foram os heróis do Lula. Pensei em meu amigo Artur que teve seu irmão assassinado pelo sindicato do crime em Pernambuco e tantas outras pessoas conhecidas que perderam parentes e amigos. Será que o senhor presidente nunca ouviu falar das Margaridas, Josés, Joãos, Antonios, Marias, todos vítimas do latifúndio? Será que o presidente do Brasil já ouviu falar da existência de um grupo governamental de combate ao trabalho escravo, existente também nas fazendas de cana e usinas de açúcar?
“Malditas sejam todas as cercas”, profetizou Casaldáliga. Malditos sejam todos aqueles que idolatram os donos das cercas! Citando D. Pedro veio-me à memória a figura de Dom Francisco Mesquita, profeta dos sertões nordestinos, falecido ano passado. Certa vez o ouvi dizer que nunca devemos xingar alguém de filho da outra. As prostitutas, dizia ele, são vítimas do sistema e, portanto dignas de nosso respeito. “Quando quiser xingar alguém acuse-o de filho de latifundiário”. Ah Dom Francisco, como eu gostaria de ouvir outra vez aquele sotaque sertanejo ecoar como um berro pelos sertões: Ô PRESIDENTE FILHO DE UM LATIFUNDUÁRIO.
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