De Saulo Feitosa
De assassinos a heróis do Lula (um desabafo entre amigos).
Meus queridos companheiros,
Somente agora, setenta e duas horas depois consigo parar e dar evasão à minha indignação ante a canalhice do presidente da República, ex-retirante da seca, ex-operário, ex-líder sindical, ex-lutador das causas dos pobres, ex-cidadão digno de respeito por seu passado de lutas. Enquanto seu antecessor ao chegar ao Planalto pediu que esquecessem o que escreveu, esse agora nega a sua origem de nordestino expulso pelo latifúndio e nos pede para esquecermos que os usineiros são bandidos e, ao mesmo tempo, condecora-os com a medalha de heróis nacionais. AGORA CHEGA!
Já ouvimos muitas sandices desse deslumbrado palaciano, que embasbacado pelo luxo e poder começou a desqualificar tudo que é digno de respeito e valorizar o indigno, injusto e asqueroso. Transformou índios e quilombolas em entraves, rotulou de loucos os homens e mulheres com mais de 60 anos que continuam lutando por mudanças e acreditando num outro mundo possível...
Aos amigos, peço desculpas pela aspereza textual, mas eu sou filho do nordeste e conheço a opressão sofrida pelo povo que vive nos canaviais. Durante os anos de minha juventude usei muitas camisetas brancas com inscrições em vermelho denunciando o “açúcar com gosto de sangue”. Mais do que isso, participei de vários sepultamentos de cortadores de cana vítimas dos pistoleiros das usinas, num tempo em que reivindicar direitos trabalhistas era o mesmo que assinar sentença de morte. Famílias inteiras foram queimadas entre as canas.
No dia em que o presidente pronunciou tamanha blasfêmia, fiquei a rememorar as cidades da zona canavieira dos estados de Pernambuco e Alagoas onde eu estive para acompanhar funerais de lavradores: Quipapá, Palmares, Novo Lino, União dos Palmares, Ribeirão e em algumas delas mais de uma vez. Os mandantes dos assassinatos foram os heróis do Lula. Pensei em meu amigo Artur que teve seu irmão assassinado pelo sindicato do crime em Pernambuco e tantas outras pessoas conhecidas que perderam parentes e amigos. Será que o senhor presidente nunca ouviu falar das Margaridas, Josés, Joãos, Antonios, Marias, todos vítimas do latifúndio? Será que o presidente do Brasil já ouviu falar da existência de um grupo governamental de combate ao trabalho escravo, existente também nas fazendas de cana e usinas de açúcar?
“Malditas sejam todas as cercas”, profetizou Casaldáliga. Malditos sejam todos aqueles que idolatram os donos das cercas! Citando D. Pedro veio-me à memória a figura de Dom Francisco Mesquita, profeta dos sertões nordestinos, falecido ano passado. Certa vez o ouvi dizer que nunca devemos xingar alguém de filho da outra. As prostitutas, dizia ele, são vítimas do sistema e, portanto dignas de nosso respeito. “Quando quiser xingar alguém acuse-o de filho de latifundiário”. Ah Dom Francisco, como eu gostaria de ouvir outra vez aquele sotaque sertanejo ecoar como um berro pelos sertões: Ô PRESIDENTE FILHO DE UM LATIFUNDUÁRIO.
sexta-feira, 23 de março de 2007
Propaganda
Se você acha que os usineiros são heróis, e está pouco se importando com os pobres coitados que eles exploram; se você acha que o Ministério público, os povos indígenas e quilombolas e as leis ambientais são "penduricalhos" que entravam o crescimento no Brasil; se você acha certo diminuir o rendimento da poupança e do FGTS; se você é aliado incondicional dos bancos e do agronegócio; se você prefere o Bush do que Chaves e Evo; se você acha certo fazer alianças com qualquer um, mesmo os antigos inimigos (muitos com o passado criminoso); se você acha certo destruir o Rio São Francisco para ajudar seus amigos do Agronegócio; se você acha lindo destruir a Amazônia para plantar soja; se você está pouco se lixando para o povo e os movimentos sociais e só tem olhos para o neoliberalismo e as elites.
Se você concorda com tudo isso.
Então, mesmo que você não saiba, você é PT!!!
quinta-feira, 22 de março de 2007
Bush e Lula
Quando Lula sair do cargo de presidente (SE ELE NÃO DER UM GOLPE, COMO FEZ FHC, E FICAR MAIS UM MANDATO, DEUS QUEIRA QUE NÃO CONSIGA), com certeza não vai conseguir emprego, pois não sabe fazer nada! Mas, seu amigo Bush, encontrou uma solução: vai oferecer um trabalho de gerente do MC Donald's NO IRAQUE!
Heróis brasileiros?!
por Otto mendes
Pois é amigos, agora o presidente Lula resolveu chamar de "heróis" os plantadores de cana-de-açucar brasileiros! No mesmo dia, fiscais do trabalho encontravam homens trabalhando em usinas em condições degradantes. Lula já escolheu seu lado no palco político do país, e é o lado dos banqueiros e do agronegócio. Diminuiu o rendimento da poupança e do FGTS, para ajudar seus aliados banqueiros e passará por cima do meio ambiente e das leis ambientais para agradar seus amigos latifundiários. Disse que os "penduricalhos" que entravam o crescimento econômico são os povos indígenas, quilombolas, ministério público, meio ambiente e leis ambientais. Quer dizer: disse que todos acima citados não são nada, são merdas que atrapalham seus amigos, penduricalhos, bijuterias. Lula está pouco se lixando para o meio ambiente, para ver seus amigos ficarem mais ricos ele faz qualquer coisa!
Chamar usineiro de herói foi a maior idiotice que saiu da boca deste presidente lamentável, logo uma raça que a quinhentos anos vem destruindo o meio ambiente, escravizando ou pagando salários miseráveis, grilando e roubando terras, matando e tudo mais de sujo que possa haver.
Lula tuas mãos estão sujas. Você vai ser conhecido no futuro, como o maior fracasso que este país já viu, o criminoso que destruiu a Amazônia, matou o Rio São Francisco e destruiu sem pena nosso meio ambiente, e o que é pior, sem crescimento, sem gerar emprego, sem distribuição de renda, pois o que você está fazendo só vai aumentar a desigualdade social.
FORA LULA!!!!
Pois é amigos, agora o presidente Lula resolveu chamar de "heróis" os plantadores de cana-de-açucar brasileiros! No mesmo dia, fiscais do trabalho encontravam homens trabalhando em usinas em condições degradantes. Lula já escolheu seu lado no palco político do país, e é o lado dos banqueiros e do agronegócio. Diminuiu o rendimento da poupança e do FGTS, para ajudar seus aliados banqueiros e passará por cima do meio ambiente e das leis ambientais para agradar seus amigos latifundiários. Disse que os "penduricalhos" que entravam o crescimento econômico são os povos indígenas, quilombolas, ministério público, meio ambiente e leis ambientais. Quer dizer: disse que todos acima citados não são nada, são merdas que atrapalham seus amigos, penduricalhos, bijuterias. Lula está pouco se lixando para o meio ambiente, para ver seus amigos ficarem mais ricos ele faz qualquer coisa!
Chamar usineiro de herói foi a maior idiotice que saiu da boca deste presidente lamentável, logo uma raça que a quinhentos anos vem destruindo o meio ambiente, escravizando ou pagando salários miseráveis, grilando e roubando terras, matando e tudo mais de sujo que possa haver.
Lula tuas mãos estão sujas. Você vai ser conhecido no futuro, como o maior fracasso que este país já viu, o criminoso que destruiu a Amazônia, matou o Rio São Francisco e destruiu sem pena nosso meio ambiente, e o que é pior, sem crescimento, sem gerar emprego, sem distribuição de renda, pois o que você está fazendo só vai aumentar a desigualdade social.
FORA LULA!!!!
terça-feira, 13 de março de 2007
Um criminoso no Brasil
Por Otto Mendes
Semana passada, os brasileiros receberam a visita de dois políticos estrangeiros. Um foi o presidente alemão, o outro George W. Bush, presidente dos EUA. Todos pudemos ver a diferença das duas visitas. O alemão não precisou de muita segurança, enquanto o presidente norte-americano parou parte da cidade de São Paulo para passar apenas 24 horas no país. Ruas e hoteis foram fechados, e os brasileiros perderam o seu direito de ir e vir. Muitos se perguntaram para quê tanta segurança, e a resposta é que Bush é um terrorista, um criminoso odiado por todo o planeta, responsável pela morte de milhares de iraquianos e palestinos. Por isso a impossibilidade de andar pelo nosso, ou qualquer outro país, sem aquele exagero de seguranças por todos os lados.
O norte-americano veio com a proposta de esvaziar a influência de Hugo Chaves e Evo Morales na América Latina, as duas grandes forças anti-Bush no nosso continente, e depois dizem que os conflitos ideológicos acabaram com a queda do muro de Berlim. Pelo contrário, Bush e Blair representam o imperialismo militar-financeiro, enquanto os dois presidentes sul-americanos uma outra alternativa política e econômica, que aqui no Brasil podemos percebe-la no cotidiano dos povos indígenas. Bush está dando corda para Lula, para que este o apoie contra a esquerda latina, oferecendo uma "parceria", que segundo o norte-americano, vai tornar o Brasil líder, junto com os EUA, da América Latina.
Democraticamente, os governos federal e de São Paulo desceram a porrada nos manifestantes que protestaram contra a presença deste senhor em nosso solo e da indústria do etanol e do biodiesel, produções cujom o custo ambiental e humano não vai compensar os ganhos com a exportação desse produtos.
Felizmente, só foram poucas horas, o senhor da guerra partiu e só nos resta desinfetar os lugares onde ele passou. Só Lula pode acreditar num homem desses......
De volta a vida
De Volta a Vida
A luta do povo Potiguara contra a indústria canavieira.
Por Otto Mendes, missionário do CIMI-NE
A grande esperança deste triste e atual presidente brasileiro, é uma formula que há mais de quinhentos anos vem sendo aplicada no Brasil: a monocultura e a grande propriedade. Nunca deu certo, só trouxe desigualdade e exclusão. Mas, Estados Unidos, Europa e Japão (a China tem interesse) querem o etanol e o biodiesel brasileiro, com o argumento de que isso vai trazer melhorias sociais no Brasil, e o governo e a mídia estão exultantes. O Brasil está salvo! Poucos na mídia procuram fazer uma análise mais profunda ou algum tipo de questionamento sobre o assunto, e depois tem outra coisa: como um modelo que continua mantendo o país no esgoto, há quinhentos anos, pode funcionar? Lula já deixou claro qual é o lado que ele ocupa nesta história, que é o lado do mercado financeiro, do neoliberalismo, do latifúndio e do crescimento a qualquer custo. Poucos foram os que estão refletindo sobre o custo social embutido na fabricação de etanol e de biodiesel, que para atender a demanda que está posta, precisará produzir mais de um trilhão de litros por ano. Para atingir este objetivo, as terras necessárias para a monocultura de cana-de-açúcar passaria dos atuais 7 milhões de hectares para 30 milhões, sem contar as áreas destinadas ao biodiesel.
As conseqüências desta situação terrível será um aumento da concentração fundiária, a ameaça a soberania alimentar, pois os tanques ianques estarão cheios, mas nossas barrigas mais vazias, êxodo de homens e mulheres, com isso o aumento das favelização da população, destruição do meio ambiente por causa das queimadas, da derrubada das matas e do uso excessivo de agrotóxico, pois a cultura da monocultura está diretamente relacionada ao uso sistemático e extensivo de agrotóxicos. A Mata Atlântica foi dizimada pelo agronegócio, principalmente da cana-de-açúcar, e hoje não resta 10% de sua área original.
O povo Potiguara, que vive a no extremo norte da Paraíba (a área ocupa três municípios: Rio Tinto, Marcação e Baia da Traição), a 70 km de João Pessoa, sabe a tragédia que é a monocultura canavieira. Há muito que usinas da região invade suas terras, inclusive ameaçando os indígenas, derrubando suas matas - milhares de goiabeiras, mangueiras, mangabeiras e cajueiros foram derrubados- diminuindo a áreas de roça, degradando o solo, envenenando os manguezais onde os indígenas coletavam mariscos, caranguejos, completando a alimentação de suas famílias e gerando renda. Com isso, muitos Potiguara estão sem trabalho, e os três municípios que abrange a área indígena não tem como absorver esta mão-de-obra ociosa. A fome e a desesperança caiu sobre o povo Potiguara, que muitas vezes para levantar uma roça em suas próprias terras tinham que pedir permissão para as usinas!
No dia 03 de agosto de 2003, a usina Japungu, para aumentar sua área de canavial, em uma terra em frente da cidade de Marcação, onde a usina acima citada já havia desmatado uma grande área de floresta, resolveu passar um trator por cima das roças dos Potiguara, que então se revoltaram e resolveram retomar aquela área. Desde então, uma mudança na qualidade de vida daqueles homens e mulheres aconteceu, pois eles mudaram a cana-de-açúcar pela policultura, plantando feijão, macaxeira, inhame, tomate, mangabeiras, goiabeiras, cajueiros, mangueiras, mandioca, pimentão, pimenta e outros produtos, além de poderem voltar a recolher alimentos nos mangues, pois sem a cana não havia mais veneno. Toda vez que vamos lá, na Aldeia Três Rios (como foi denominada a área de retomada pelos Potiguara), ficamos maravilhados em perceber esta mudança. Casas foram construídas, eles têm luz e água e estão felizes, pois a vida voltou para quem estava quase morto. A Aldeia Três Rios virou uma espécie de vitrine para os indígenas, o exemplo a ser seguido e um argumento incontestável contra a monocultura de cana, que só desgraça trouxe para este povo.
Agora, seguindo o exemplo de seus parentes, os indígenas de Monte-Mór, no município de Rio Tinto, resolveram lutar por seus direitos e expulsar os invasores de suas terras, retomando outra área indígena invadida pelas usinas canavieiras, que já começaram a usar o argumento de que a plantação e beneficiamento da cana é ponto estratégico para o país, evitando o debate sobre se o ganho paga o enorme prejuízo ambiental e humano. Os usineiros ameaçaram os indígenas para obrigá-los a sair da área, mas os Potiguara estão decididos, ali é a casa deles e dela eles só saem mortos. As novas roças se sobressaem no meio da monotonia da cana, devolvendo para aquelas famílias a perspectiva de uma vida digna, sem fome, sem violência e a alegria de pisar na sua terra. A luta dos Potiguara para recuperar suas terras originais e expulsar os invasores é um símbolo da luta que todos nós vamos enfrentar para podermos barrar projetos que só beneficiarão poucos em detrimento da maioria e do maio ambiente.
Os Potiguara podem ser mais um dos exemplos de que outro mundo e outra consciência social e econômica não é só possível, ELA JÁ EXISTE!
A luta do povo Potiguara contra a indústria canavieira.
Por Otto Mendes, missionário do CIMI-NE
A grande esperança deste triste e atual presidente brasileiro, é uma formula que há mais de quinhentos anos vem sendo aplicada no Brasil: a monocultura e a grande propriedade. Nunca deu certo, só trouxe desigualdade e exclusão. Mas, Estados Unidos, Europa e Japão (a China tem interesse) querem o etanol e o biodiesel brasileiro, com o argumento de que isso vai trazer melhorias sociais no Brasil, e o governo e a mídia estão exultantes. O Brasil está salvo! Poucos na mídia procuram fazer uma análise mais profunda ou algum tipo de questionamento sobre o assunto, e depois tem outra coisa: como um modelo que continua mantendo o país no esgoto, há quinhentos anos, pode funcionar? Lula já deixou claro qual é o lado que ele ocupa nesta história, que é o lado do mercado financeiro, do neoliberalismo, do latifúndio e do crescimento a qualquer custo. Poucos foram os que estão refletindo sobre o custo social embutido na fabricação de etanol e de biodiesel, que para atender a demanda que está posta, precisará produzir mais de um trilhão de litros por ano. Para atingir este objetivo, as terras necessárias para a monocultura de cana-de-açúcar passaria dos atuais 7 milhões de hectares para 30 milhões, sem contar as áreas destinadas ao biodiesel.
As conseqüências desta situação terrível será um aumento da concentração fundiária, a ameaça a soberania alimentar, pois os tanques ianques estarão cheios, mas nossas barrigas mais vazias, êxodo de homens e mulheres, com isso o aumento das favelização da população, destruição do meio ambiente por causa das queimadas, da derrubada das matas e do uso excessivo de agrotóxico, pois a cultura da monocultura está diretamente relacionada ao uso sistemático e extensivo de agrotóxicos. A Mata Atlântica foi dizimada pelo agronegócio, principalmente da cana-de-açúcar, e hoje não resta 10% de sua área original.
O povo Potiguara, que vive a no extremo norte da Paraíba (a área ocupa três municípios: Rio Tinto, Marcação e Baia da Traição), a 70 km de João Pessoa, sabe a tragédia que é a monocultura canavieira. Há muito que usinas da região invade suas terras, inclusive ameaçando os indígenas, derrubando suas matas - milhares de goiabeiras, mangueiras, mangabeiras e cajueiros foram derrubados- diminuindo a áreas de roça, degradando o solo, envenenando os manguezais onde os indígenas coletavam mariscos, caranguejos, completando a alimentação de suas famílias e gerando renda. Com isso, muitos Potiguara estão sem trabalho, e os três municípios que abrange a área indígena não tem como absorver esta mão-de-obra ociosa. A fome e a desesperança caiu sobre o povo Potiguara, que muitas vezes para levantar uma roça em suas próprias terras tinham que pedir permissão para as usinas!
No dia 03 de agosto de 2003, a usina Japungu, para aumentar sua área de canavial, em uma terra em frente da cidade de Marcação, onde a usina acima citada já havia desmatado uma grande área de floresta, resolveu passar um trator por cima das roças dos Potiguara, que então se revoltaram e resolveram retomar aquela área. Desde então, uma mudança na qualidade de vida daqueles homens e mulheres aconteceu, pois eles mudaram a cana-de-açúcar pela policultura, plantando feijão, macaxeira, inhame, tomate, mangabeiras, goiabeiras, cajueiros, mangueiras, mandioca, pimentão, pimenta e outros produtos, além de poderem voltar a recolher alimentos nos mangues, pois sem a cana não havia mais veneno. Toda vez que vamos lá, na Aldeia Três Rios (como foi denominada a área de retomada pelos Potiguara), ficamos maravilhados em perceber esta mudança. Casas foram construídas, eles têm luz e água e estão felizes, pois a vida voltou para quem estava quase morto. A Aldeia Três Rios virou uma espécie de vitrine para os indígenas, o exemplo a ser seguido e um argumento incontestável contra a monocultura de cana, que só desgraça trouxe para este povo.
Agora, seguindo o exemplo de seus parentes, os indígenas de Monte-Mór, no município de Rio Tinto, resolveram lutar por seus direitos e expulsar os invasores de suas terras, retomando outra área indígena invadida pelas usinas canavieiras, que já começaram a usar o argumento de que a plantação e beneficiamento da cana é ponto estratégico para o país, evitando o debate sobre se o ganho paga o enorme prejuízo ambiental e humano. Os usineiros ameaçaram os indígenas para obrigá-los a sair da área, mas os Potiguara estão decididos, ali é a casa deles e dela eles só saem mortos. As novas roças se sobressaem no meio da monotonia da cana, devolvendo para aquelas famílias a perspectiva de uma vida digna, sem fome, sem violência e a alegria de pisar na sua terra. A luta dos Potiguara para recuperar suas terras originais e expulsar os invasores é um símbolo da luta que todos nós vamos enfrentar para podermos barrar projetos que só beneficiarão poucos em detrimento da maioria e do maio ambiente.
Os Potiguara podem ser mais um dos exemplos de que outro mundo e outra consciência social e econômica não é só possível, ELA JÁ EXISTE!
segunda-feira, 5 de março de 2007
Um novo desfile e a mesma fantasia de Washington Novaes*
Estadão, 2 de março de 2007.
Um novo desfile e a mesma fantasiaWashington Novaes*
Haja fôlego, paciência, persistência. Há uns 15 anos vem o autordestas linhas transcrevendo periodicamente graves questões levantadas por cientistas, administradores públicos, Tribunais de Contas, arespeito do famigerado projeto de transposição das águas do Rio SãoFrancisco. A todas responde a administração federal - quando responde- com argumentos do tipo "não se pode negar uma caneca de água a 12 milhões de vítimas da seca". E vai em frente, até que surja uma novabarreira - como foi a greve de fome do bispo dom Luiz Flávio Cappio.
Agora, esquecido o bispo e derrubadas na Justiça medidas liminares, anuncia o Ministério da Integração Nacional que fará imediatamentelicitações (no valor aproximado de R$ 100 milhões) para contratarempresas que façam os projetos executivos da obra, orçada em R$ 6,6bilhões nesta etapa. E o bispo manda nova carta ao presidente, lembrando que o Tribunal de Contas da União diz que o projeto nãobeneficiará o número de pessoas que se alardeia, que a AgênciaNacional de Águas propõe obras em 530 municípios para solucionar osmesmos problemas com metade dos recursos previstos para a transposição e que populações a 500 metros do rio continuarão, apesar datransposição, a sofrer com a falta de água. Já o Comitê de Gestão dabacia (que por 44 votos a 2 foi contra a transposição) diz que estaatende a menos de 20% do semi-árido, que 44% da população do meio rural continuará sem acesso a água - "exatamente os que mais precisam"- e que a revitalização do rio prometida pelo Ministério da IntegraçãoNacional precisa "sair do campo da retórica". E o Ministério Público volta a recorrer à Justiça, lembrando que nos termos da Constituição,por atingir terras indígenas, a obra precisa de autorização doCongresso Nacional, o que ainda não aconteceu.
Como já foi dito aqui, parece uma assombração que some e reaparece de tempos em tempos. Sem falar no governo imperial, foi no começo dadécada de 1980, ainda nos tempos do "Brasil Grande" da ditaduramilitar, que o projeto ressuscitou, para uma vida muito breve. Poucomais de uma década depois, embora o então ministro do Meio AmbienteRubens Ricupero dissesse que o São Francisco já era "um rio ameaçadode extinção", por causa do desmatamento nas regiões onde nascem e por onde passam seus formadores, o Ministério do Interior voltou à carga,com um projeto de transpor 150 metros cúbicos por segundo, a um custode US$ 1,5 bilhão. Mas ele foi fulminado por um parecer do Tribunal deContas da União, que mostrava ser um fantasma esdrúxulo, pois oMinistério do Planejamento dele não sabia, assim como os Ministériosda Agricultura (que cuida de irrigação), da Reforma Agrária e daFazenda (que libera recursos). Além disso, o projeto implicava prejuízos de US$ 1 bilhão anuais na geração de energia, inviabilizavamais áreas para irrigação a montante do que beneficiava a jusante econcentrava os benefícios num pequeno número de grandes produtoresrurais.
Foi para o limbo até 1998, quando ressurgiu em nova versão de túneisque levariam água para o abastecimento de cidades, ao custo de US$ 700milhões. Durou pouco a reaparição. Mas já estava de volta no final de 2000, numa versão em que 127 metros por segundo transpostosbeneficiariam 8 milhões de pessoas e o abastecimento de água de 268cidades, além de irrigar 260 mil hectares. O professor Aziz Ab'Saber,da USP, lembrou na época que os beneficiados seriam menos de um terço das vítimas da seca (27 milhões). A Universidade Federal do Rio Grandedo Norte (UFRN) observou que pelo menos 30% da água se perderia porevaporação. E a Cáritas mostrou que a solução para comunidadesisoladas está na implantação de cisternas de placa (das quais já há 160 mil), não na transposição, que não chegaria a esses lugares.Levou algum tempo para recuperar-se o combalido. Mas retornou em 2003.
Dessa vez, teve a oposição do Comitê de Gestão da bacia, da CNBB, daOAB, das arquidioceses à beira-rio. Custaria R$ 4,2 bilhões para umatransposição de 53 metros cúbicos por segundo. Vários especialistas(professor Aldo Rebouças, da USP, professor Abner Curado, da UFRN,professor João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco, entre muitos) mostraram a desnecessidade: o problema no semi-árido é de gestão, nãode escassez.
Mesmo levantando mais de 40 questões, o Ibama concedeu em 2005 licençaprévia. Sabendo que 70% da água seria para irrigação e 26% para o abastecimento de cidades, e não para proporcionar "uma caneca de águapara as vítimas da seca". Que não estava equacionada a questão dossubsídios necessários para uma água que poderia custar até cinco vezes mais que a então disponível. Que a maior parte da água transposta iriapara açudes onde se perde até 75% por evaporação. Que havia enormesdiscrepâncias a cada citação do número de beneficiados (12 milhões?7,24 milhões? 9,02 milhões? 7,21 milhões?) e dos hectares irrigados (161 mil? 186 mil?). Mais grave que tudo: o próprio estudo de impactoambiental dizia que 20% dos solos que se pretendia irrigar "têmlimitações para uso agrícola"; e "somados aos solos líticos,notadamente impróprios, respondem por mais de 50% do total" das terrasque seriam irrigadas. Não bastasse, "62% dos solos precisam decontrole, por causa da forte tendência à erosão". Ainda assim,concedeu licença prévia ao projeto, pois as objeções do Comitê deGestão haviam sido ignoradas pelo Conselho Nacional de RecursosHídricos, onde o governo federal, sozinho, tem a maioria dos votos.
Agora, o velho abantesma retorna à avenida, sem responder a nenhuma das muitas questões levantadas principalmente por cientistas.E retorna com a mesma fantasia.
*Washington Novaes é jornalista, wlrnovaes@uol.com.br
Um novo desfile e a mesma fantasiaWashington Novaes*
Haja fôlego, paciência, persistência. Há uns 15 anos vem o autordestas linhas transcrevendo periodicamente graves questões levantadas por cientistas, administradores públicos, Tribunais de Contas, arespeito do famigerado projeto de transposição das águas do Rio SãoFrancisco. A todas responde a administração federal - quando responde- com argumentos do tipo "não se pode negar uma caneca de água a 12 milhões de vítimas da seca". E vai em frente, até que surja uma novabarreira - como foi a greve de fome do bispo dom Luiz Flávio Cappio.
Agora, esquecido o bispo e derrubadas na Justiça medidas liminares, anuncia o Ministério da Integração Nacional que fará imediatamentelicitações (no valor aproximado de R$ 100 milhões) para contratarempresas que façam os projetos executivos da obra, orçada em R$ 6,6bilhões nesta etapa. E o bispo manda nova carta ao presidente, lembrando que o Tribunal de Contas da União diz que o projeto nãobeneficiará o número de pessoas que se alardeia, que a AgênciaNacional de Águas propõe obras em 530 municípios para solucionar osmesmos problemas com metade dos recursos previstos para a transposição e que populações a 500 metros do rio continuarão, apesar datransposição, a sofrer com a falta de água. Já o Comitê de Gestão dabacia (que por 44 votos a 2 foi contra a transposição) diz que estaatende a menos de 20% do semi-árido, que 44% da população do meio rural continuará sem acesso a água - "exatamente os que mais precisam"- e que a revitalização do rio prometida pelo Ministério da IntegraçãoNacional precisa "sair do campo da retórica". E o Ministério Público volta a recorrer à Justiça, lembrando que nos termos da Constituição,por atingir terras indígenas, a obra precisa de autorização doCongresso Nacional, o que ainda não aconteceu.
Como já foi dito aqui, parece uma assombração que some e reaparece de tempos em tempos. Sem falar no governo imperial, foi no começo dadécada de 1980, ainda nos tempos do "Brasil Grande" da ditaduramilitar, que o projeto ressuscitou, para uma vida muito breve. Poucomais de uma década depois, embora o então ministro do Meio AmbienteRubens Ricupero dissesse que o São Francisco já era "um rio ameaçadode extinção", por causa do desmatamento nas regiões onde nascem e por onde passam seus formadores, o Ministério do Interior voltou à carga,com um projeto de transpor 150 metros cúbicos por segundo, a um custode US$ 1,5 bilhão. Mas ele foi fulminado por um parecer do Tribunal deContas da União, que mostrava ser um fantasma esdrúxulo, pois oMinistério do Planejamento dele não sabia, assim como os Ministériosda Agricultura (que cuida de irrigação), da Reforma Agrária e daFazenda (que libera recursos). Além disso, o projeto implicava prejuízos de US$ 1 bilhão anuais na geração de energia, inviabilizavamais áreas para irrigação a montante do que beneficiava a jusante econcentrava os benefícios num pequeno número de grandes produtoresrurais.
Foi para o limbo até 1998, quando ressurgiu em nova versão de túneisque levariam água para o abastecimento de cidades, ao custo de US$ 700milhões. Durou pouco a reaparição. Mas já estava de volta no final de 2000, numa versão em que 127 metros por segundo transpostosbeneficiariam 8 milhões de pessoas e o abastecimento de água de 268cidades, além de irrigar 260 mil hectares. O professor Aziz Ab'Saber,da USP, lembrou na época que os beneficiados seriam menos de um terço das vítimas da seca (27 milhões). A Universidade Federal do Rio Grandedo Norte (UFRN) observou que pelo menos 30% da água se perderia porevaporação. E a Cáritas mostrou que a solução para comunidadesisoladas está na implantação de cisternas de placa (das quais já há 160 mil), não na transposição, que não chegaria a esses lugares.Levou algum tempo para recuperar-se o combalido. Mas retornou em 2003.
Dessa vez, teve a oposição do Comitê de Gestão da bacia, da CNBB, daOAB, das arquidioceses à beira-rio. Custaria R$ 4,2 bilhões para umatransposição de 53 metros cúbicos por segundo. Vários especialistas(professor Aldo Rebouças, da USP, professor Abner Curado, da UFRN,professor João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco, entre muitos) mostraram a desnecessidade: o problema no semi-árido é de gestão, nãode escassez.
Mesmo levantando mais de 40 questões, o Ibama concedeu em 2005 licençaprévia. Sabendo que 70% da água seria para irrigação e 26% para o abastecimento de cidades, e não para proporcionar "uma caneca de águapara as vítimas da seca". Que não estava equacionada a questão dossubsídios necessários para uma água que poderia custar até cinco vezes mais que a então disponível. Que a maior parte da água transposta iriapara açudes onde se perde até 75% por evaporação. Que havia enormesdiscrepâncias a cada citação do número de beneficiados (12 milhões?7,24 milhões? 9,02 milhões? 7,21 milhões?) e dos hectares irrigados (161 mil? 186 mil?). Mais grave que tudo: o próprio estudo de impactoambiental dizia que 20% dos solos que se pretendia irrigar "têmlimitações para uso agrícola"; e "somados aos solos líticos,notadamente impróprios, respondem por mais de 50% do total" das terrasque seriam irrigadas. Não bastasse, "62% dos solos precisam decontrole, por causa da forte tendência à erosão". Ainda assim,concedeu licença prévia ao projeto, pois as objeções do Comitê deGestão haviam sido ignoradas pelo Conselho Nacional de RecursosHídricos, onde o governo federal, sozinho, tem a maioria dos votos.
Agora, o velho abantesma retorna à avenida, sem responder a nenhuma das muitas questões levantadas principalmente por cientistas.E retorna com a mesma fantasia.
*Washington Novaes é jornalista, wlrnovaes@uol.com.br
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