quinta-feira, 17 de abril de 2008

Resposta ao usineiro

Uma foto da cidade de Piracicaba fora
da época de queimada de cana (na matéria
anterior vejam como fica na época das
queimadas)

Por Otto Mendes

Um dos que acompanharam o cientista-presidemente Lula, nessa viagem de defesa do etanol pela Europa foi o usineiro Maurílio Biagi, um dos maiores do Brasil e dirigente da Unica (associação paulista do setor). Este senhor afirmou, na maior cara de pau que as críticas contra o etanol revelam uma luta de Davi contra Golias, "porque existe uma hipocrisia muito grande contra o etanol" e que nenhuma crítica é justificada, nem a ambiental, nem a social, nem a econômica! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! É inacreditável que um usineiro, herói de Lula, tenha a coragem de falar tanta baboseira sem ser preso em flagrante!

Caro usineiro, a mentira tem pernas curtas e nenhum europeu, com o mínimo de inteligência pode acreditar em tamanha besteirada. Vamos responder cada tópico da sua resposta:

Questão ambiental: para começar, a cana-de-áçucar precisa de amplos espaços, contribuindo para a destruição ambiental, já que muitas florestas e matas precisam ser derrubadas, prejudicando o ecossistema local. Outra contribuição da cultura de cana para a devastação ambiental é o uso excessivo de veneno, que escorre para rios, nascentes, lagos e até para o mar, acabando com peixes e com a flora aquática. Também temos a grande contribuição das queimadas, que despejam grandes quantidades de monóxido de nitrogênio (NO) e de dióxido de nitrogênio (NO2) na atmosfera. Quando não há queima o uso de fertilizantes nitrogenados contribuem para a emissão desses gases para a atmosfera. Tanto o uso de fertilizantes quimicos quanto dos venenos destroem o solo, como eu vi nas áreas invadidas pelas usinas em Potiguara, na Paraíba.

Questão social: ao precisar de grandes extensões de terras, as usinas expulsam, com o apoio dos governos estaduais, municipais e federal, o pequeno agricultor, o indígena e os quilombolas de suas terras, criando uma grave situação social de miséria e exclusão, contribuindo para o aumento da violência nas cidades e no campo. Para os que permanecem no campo só sobra o trabalho nos canaviais que oferecem péssimas condições de vida, quando os trabalhadores não viram escravos dos usineiros. A queima da cana prejudica a saúde de quem mora no entorno dos canaviais. Em Araraquara, São Paulo, cuja área de cana atinge 40% da região, durante a época de queimada, as internações decorrentes de asma, hipertensão e outros problemas respiratórios aumentaram muito, causando um prejuízo para o Estado e aos cidadãos com os custos dessas internações, além do prejuízo causado pela falta ao trabalho de muitos doentes.

Questão econômica: ora, caro usineiro, com tudo o que foi dito acima, já era o suficiente para provar que a cultura de cana e a produção de etanol não vale todo esse investimento. Para o Brasil se adequar a demanda que está se criando, será precisos ter disponível só para a plantação de cana 30 milhões de hectares de terras, ou seja, uma devastação ambiental nunca vista antes. Será o fim de muitas florestas e matas seculares. O aumento da emissão de gases vai triplicar e a exclusão vai atingir níveis nunca vistos antes. O custo da produção de etanol não compensa de jeito nenhum os danos que ele causa.


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