quarta-feira, 30 de abril de 2008

'Não podemos infligir uma segunda derrota a eles'

Aqui trabalham os ratos e as
baratas que apoiam e tramam
o roubo de terras indígenas em
Raposa Serra do Sol




Domingo, 20 abril de 2008
ESTADO DE SAO PAULO - SUPLEMENTO ALIAS

'Não podemos infligir uma segunda derrota a eles'

Para Viveiros de Castro, professor do Museu Nacional da UFRJ, os conflitosna reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, são a prova do insuperável estranhamento que ainda temos em relação aos índios

Flávio Pinheiro e Laura Greenhalgh

Eduardo Viveiros de Castro, professor do Museu Nacional da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro, é considerado "o antropólogo da atualidade".
Dele, diz Claude Lévi-Strauss, seu colega e mentor, seguramente um dos maiores pensadores do século 20: "Viveiros de Castro é o fundador de uma nova escolana antropologia. Com ele me sinto em completa harmonia intelectual". Quem há de questionar o mestre frânces que, nos anos 50, sacudiu os pilares das ciências sociais com a publicação de Tristes Trópicos, relato deexperiências com os índios brasileiros nos anos 30 ?
Pois, muitos questionam Viveiros de Castro. E muitos o criticarão por esta entrevista ao caderno Aliás. Numa semana em que os conflitos entre índios e rizicultores (informalmente tratados de "arrozeiros"), lá na distante reserva Raposa Serra do Sol (Roraima), ganharam estridência e manchetes de jornais, o professor sai em defesa dos macuxis, wapixanas e outros grupos indígenas que habitam uma faixa de terra contínua de 1,7 milhão de hectares, palco de discórdias que sintetizam 500 anos de Brasil. A estridência ficoupor conta de uma palestra do general Augusto Heleno, comandante militar da Amazônia, feita no Clube Militar do Rio de Janeiro. O general foi contundente: disse que a política indigenista é lamentável e caótica, ganhando imediata adesão de seus pares. Augusto Heleno, que chefiou a missão brasileira no Haiti, também bateu pesado ao reagir contra a decisão da Justiça que determina a saída dos não-índios da reserva: "Como um brasileiro está impedido de entrar numa terra porque ela é indígena? Isso não entra naminha cabeça."
Também não entra na cabeça de Viveiros de Castro que os indígenas possam ser vistos como ameaça à soberania nacional. Ao contrário, entende que eles contribuem com a soberania. Atribui tanta polêmica ao alto grau de desinformação em torno das reservas existentes no País e, em particular, daRaposa Serra do Sol. "As terras não são dos índios, mas da União. Eles têm o usufruto, o que é bem diferente. Já os arrozeiros querem a propriedade." O entrevistado contesta números, analisa o modelo de colonização da Amazônia e tenta desfazer discursos que, na sua opinião, são alarmistas. Mas é condescendente com o general: "Ele está sendo usado neste conflito. É claro que o Exército tem de atuar lá, defendendo nossas fronteiras. Mas o que está em jogo são os interesses em torno de uma questão fundiária."
Ex-professor da École de Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris, daUniversidade de Chicago e da Universidade de Cambridge, Viveiros de Castro é autor de vários livros, entre eles, "Arawete, osDeuses Canibais" (Zahar), que resulta de pesquisa de campo com índios do Pará, e "A Inconstância da Alma Selvagem" (Cosac & Naify), uma coletânea de ensaios que revela sua principal contribuição para a antropologia. Trata-se do "perspectivismo amazônico", a proposição teórica que guia todas as suas formulações.
Existe risco para a soberania nacional na reserva Raposa Serra do Sol, como crê o general?
Existe, sim, uma questão de soberania do governo ao ser contestado publicamente por um membro das Forças Armadas. O general polemiza com uma decisão que, como todo mundo diz, não se discute, apenas se executa. A argumentação de que a reserva indígena represente um problema de soberania está mal colocada.
Por quê?
Há outras reservas em terras contínuas, em fronteiras. É o caso da Cabeça de Cachorro, no município de São Gabriel da Cachoeira, no Estado do Amazonas. E o Exército está lá, como deveria estar. A área indígena não teria como impedir a presença dos militares. O que a área indígena não permite é a exploração das terras por produtores não-índios. Dizer que o Exército não pode atuar é um sofisma alimentado por políticos e fazendeiros que agem de comum acordo, numa coalizão de interesses típica da região. Roraima é um Estado que não se mantém sozinho, ou melhor, que depende do repasse de recursos federais. Um lugar onde 90% dos políticos nem sequer são nativos.Onde o maior arrozeiro, que está à frente do movimento contra a reserva, arvora-se em defensor da região, mas veio de fora. É um gaúcho que desembarcou por lá em 1978, e não há nada de mal nisso, mas combate os índios que justamente servem de "muralha dos sertões", desde os tempos da colônia. Os índios foram decisivos para que o Brasil ganhasse essa área, numa disputa que houve no passado com a Guiana, portanto, com a Inglaterra. Dizer que viraram ameaça significa, no mínimo, cometer uma injustiça histórica. Até o mito do Macunaíma, que foi recolhido por um alemão,Koch-Grünberg, e transformado por um paulista, Mário de Andrade, foi contado por índios daquela área, os macuxis, os wapixanas. Eles são co-autores da ideologia nacional.
As manifestações do general remetem ao discurso dos militares nos anos 70,que dava ênfase à idéia de tirar os índios da tutela do Estado?
Não sei. O general diz: "Sou totalmente a favor dos índios". Imagine então o contrário, um índio indo para a televisão dizer que é totalmente a favor dos generais. Esquisito, não? Vamos pensar: o general não quer matar os índios. Quer que virem brancos? E quem é branco no Brasil? Na Amazônia todo mundo é índio. Inclusive boa parte das Forças Armadas na região é composta por gente que fala o português, mas se identifica como índio.
Esse conflito na Raposa tem por volta de 30 anos. Em 2005, quando o presidente Lula homologou as terras, selou-se o compromisso de retirar, no prazo de um ano, os produtores rurais que estavam dentro da área reservada.Parecia que todo mundo ficara de acordo. Por que a situação se deteriorou?
Há o jogo político. Disseminam-se inverdades, como a de que a área da reserva ocupa 46% de Roraima, quando apenas ocupa 7%. As terras indígenas de Roraima, somadas, dão algo como 43% do Estado. Mas a Raposa tem 7%.
Ou, 1,7 milhão de hectares.
O que não é um absurdo. As terras de índios são 43% ao todo, porém, até 30, 40 anos atrás, eram 100%. E o que acontece hoje com os 57% que não são terras de índios? São ocupados por uma população muito pequena, algo emtorno de 1 milhão de pessoas. O que é isso? É latifúndio. Sabe quantos são os arrozeiros que exploram terras da reserva? Seis. Não há dúvida de que o que se quer são poucos brancos, com muita terra. Outra inverdade: as terras da reserva são dos índios. Não são. Eles não têm a propriedade, mas o usufruto. Porque as terras são da União. E a União tem o dever constitucional de zelar por elas. Já os arrozeiros querem a propriedade. As notícias que temos são as de que, desde a homologação, produtores rurais que estão fora da lei já atacaram quatro comunidades indígenas, incendiaram 34 casas, arrebentaram postos de saúde, espancaram e balearam índios. PauloCésar Quartiero, o arrozeiro-mor, foi preso na semana passada por desacato à autoridade. Já está solto, mas, enfim, esse é o clima de hostilidade que reina por lá. Sinceramente, acho que o general Heleno está sendo usado por esses tubarões do agronegócio, que o envolvem numa questão de soberania totalmente artificial. O general cai nessa e vem com uma tese de balcanização, que não faz o menor sentido. Ele disse à imprensa: "O risco de áreas virem a se separar do território brasileiro, a pedido de índios e organizações estrangeiras, pode ser a mesma situação que ocorreu em Kosovo". Muito bem, o general raciocina como se nós fôssemos os sérvios? Por acaso seria o Brasil a Sérvia e os índios, minorias que precisam ser eliminadas? Não estou entendendo.
O que se questiona na Raposa é a criação de uma reserva enorme, em área contínua.
A declaração do ministro Gilmar Mendes a esse respeito é espantosa. Ele defende a demarcação de ilhas, e não de terras extensas. Em primeiro lugar,não sabia que ministro do Supremo é demarcador de terras.Demarcar é ato administrativo, cabe ao governo, não ao Judiciário. Em segundo lugar, as terras indígenas já são um arquipélago no Brasil. Acho curiosa essa expressão: demarcar em ilhas. Significa ilhar, isolar, separar. Demarcar de modo que um mesmo povo fique separado de si mesmo.
Existe o risco de reivindicação de autonomia por parte dos índios?
A terra ianomâmi está demarcada desde o governo Collor e nunca houve isso. Alguém imagina que os ianomâmis queiram reivindicar um Estado independente, justamente um povo que vive numa sociedade sem Estado? Chega a ser engraçado.
E se eles foram manipulados por interesses estrangeiros?
Empresas e cidadãos estrangeiros já são proprietários de partes consideráveis do Brasil.Detêm extensões enormes de terra e parece não haver inquietação em relação a isso. Agora, quando os índios estão em terras daUnião, que lhes são dadas em usufruto, daí fala-se do risco de interesses estrangeiros. A Amazônia já está internacionalizada há muito tempo, não pelos índios, mas por grandes produtores de soja ligados a grupos estrangeiros ou pelas madeireiras da Malásia. O que não falta por lá é capital estrangeiro. Por que então os índios incomodam? Porque suas terras, homologadas e reservadas, saem do mercado fundiário.
É uma questão fundiária?
É. Essa história de soberania nacional serve para produzir pânico em gente que vive longe de lá. É claro que o Exército tem de cumprir sua missão constitucional, que não é a de ficar criticando o Executivo, é proteger fronteiras, fincar postos de vigilância, levar seus batalhões, criar protocolos de convivência com as populações locais. Mas o que prevalece é o conflito fundiário e a cobiça pelas terras. Veja o que aconteceu no Estado do Mato Grosso. O que fez esse governador (Blairo Maggi), considerado um dos maiores desmatadores do mundo? Derrubou florestas para plantar soja, com o consentimento do presidente da República, diga-se de passagem. Hoje o Estado do Mato Grosso deveria se chamar Mato Fino. Virou um mar amarelo. O único ponto verde que se vê ao sobrevoá-lo é o Parque Nacional do Xingu, reserva indígena. O resto é deserto vegetal. Uma vez por ano, o deserto verdeja,hora de colher soja. Depois, dá-lhe desfolhante, agrotóxico... E a soja devasta a natureza duplamente. Cada quilo produzido consome 15 litros de água. Em Roraima não se deve bater de frente com o Planalto. Representa esse Estado o senador Romero Jucá, que é pernambucano e hoje atua como líder do governo. Jucá tem interesses claros e bem definidos. É dele o projeto que regulamenta a mineração em terras indígenas. Regulamenta, não. Libera.
Ele foi presidente da Funai.
Num momento particularmente infeliz da política indigenista brasileira. Olha, não há nada de errado em ser gaúcho ou pernambucano e fazer a vida em Roraima. Mas não precisa isolar as comunidades e solapar seus direitos. Outro aspecto precisa ser lembrado: até que saísse a homologação da Raposa, o que demorou anos e anos, muito foi tirado de lá. A sede do município de Uiramutã, com 90% de índios entre seus moradores, foi transferida para fora da área. Estradas federais cortam a reserva, bem como linhas de transmissão elétrica. A rigor, já não é uma terra tão contínua.
O general diz que a política indigenista no Brasil é lamentável e caótica.Concorda com ele?
Partindo dele, a declaração não chega a ser um furo de reportagem. Creio que essa política anda melhor hoje. Em alguns aspectos tem problemas, sim, como nos programas de saúde para populações indígenas, desastrosos desde que passaram para a coordenação da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Tem havido desmandos e irregularidades em toda parte. Mas do ponto de vista de relacionamento dos indígenas com os poderes da República, as coisas não estão tão mal assim.
Os índios são instrumentalizados no Brasil ?
Que poderes os instrumentalizariam ? A Igreja? Hoje não podemos falar só emIgreja, no singular, mas em igrejas. Porque lá estão os católicos e os evangélicos. Sei que a Igreja Católica não tem tido uma relação muito boa com o Exército e com os políticos na região da Raposa, mas isso é superável. Falta, a meu ver, um esforço da própria Igreja para melhorar a visão do problema e ganhar mais senso político.
E as ONGs? Instrumentalizam?
Hoje quase todo deputado no Congresso tem ONG própria. Então as relações não-governamentais ganharam uma capa sombria, mas o fato é que existe organização de todo tipo, assim como existe cidadão de todo tipo. Há bandidagem na Amazônia? Claro que há. Índio é santo? Claro que não. Mas será que aqueles carros de luxo contrabandeados pelo filho do governador de Rondônia entram pelas áreas indígenas? Tenho minhas dúvidas. Por que o Exército não impede esse contrabando, que também é uma afronta à soberania? Historicamente, seguimos o modelo de colonização segundo o qual é preciso bandido para povoar e defender certas faixas. Fronteira é feita por toda a sorte de gente. E o Estado parece ter um discurso ambíguo: protesta por que tem gente fora da lei na fronteira, mas, ao mesmo tempo, precisa dos fora-da-lei para fazer o que não é possível legalmente.
O índio é imune à bandidagem?
O índio tem a mesma galeria de problemas de qualquer ser humano. E tem, defato, uma situação especial no Brasil. Porque este país reconhece direitos originários e isso, por si só, é um gesto histórico de proporções imensas. O País reconhece que tem uma dívida para com os índios. Apesar disso, reina uma abissal ignorância sobre a realidade desses povos de quem somos devedores.
Por quê?
O brasileiro vive um complexo que eu chamaria de a nostalgia de não ser europeu puro. Isso também se traduz no medo de ser confundido com índio. É um complexo de inferioridade. Ser "um pouco índio" até cai bem na medida em que existe uma certa simpatia com a idéia de mistura de raças, o que também não deixa de ser ambíguo. Por outro lado, o estereótipo clássico do índio, aquele sujeito de cocar e tanga, cada vez menos espelha a realidade. O caboclo da Amazônia pode ter hábitos tipicamente indígenas, mas é também o sujeito que vê televisão, fala ao telefone, como nós.
Tem-se uma percepção disseminada de que o Brasil foi habitado por índios primitivos, diferentes dos incas, maias ou astecas, cujas civilizações eram até resplandescentes.
Talvez. O México realmente produziu uma forte identificação com povos que foram esmagados pelo colonizador. Aqueles índios fizeram uma civilização mais parecida com a que havia na Europa, com seus palácios, templos, sacerdotes, um aparato que realmente não aconteceu por aqui. Agora, há muito desconhecimento dos índios brasileiros, e isso em parte é culpa nossa, antropólogos, que precisamos demonstrar melhor as soluções originais de vida que esses povos encontraram. Soluções para atingir uma forma de organização social bem-sucedida, no que diz respeito à satisfação de suas necessidades básicas. Não os vejo como índios pobres, mas originais. Considerando a história da espécie humana neste planeta, penso que não estamos em condição de dar lição a ninguém. Nós, os não-índios, tivemos uma capacidade imensa de criar excedentes e uma dificuldade quase congênita de fazer com que sejam usufruídos por todos, de maneira eqüitativa. Articulamos a desigualdade e deixamos para alguém a conta a pagar. Os índios desenvolveram um processo civilizatório mais lento, certamente, mas não deixam a conta para trás. Significa ser primitivo? Eu me pergunto: o que diabos temos a ensinar aos índios se não conseguimos resolver a dengue no Rio? O que temos a lhes mostrar se não damos jeito no trânsito da cidade de São Paulo?
Quando o europeu chegou nas Américas, a população indígena estaria na casados 100 milhões de pessoas. Esse dado é razoável?
Ah, esses cálculos variam muito, depende da metodologia empregada. O que se pode afirmar é que, por volta do século 15, a população indígena nas Américas era maior do que a população européia. Havia mais gente aqui do que lá. No Brasil, fala-se numa população pré-colombiana entre 4 e 5 milhões.Houve uma perda de 80% disso, desde então. Em certos momentos, houve um declínio demográfico muito profundo, tanto que, na época do Darcy Ribeiro, quando se fez uma contagem, havia algo como 200 mil índios no País. Hoje estima-se em algo em torno de 600 mil. O crescimento tem a ver com a aplicação do quesito raça-cor, no censo IBGE,o que levaria mais gente a se declarar índio?
A autodeclaração é um fator importante, mas não o único. Hoje ocorre um número maior de nascimentos. O grande choque demográfico sobre a população indígena foi de ordem epidemiológica, com as doenças trazidas pelo colonizador. Varíola, gripe, sarampo mataram aos milhões. Até pouco tempo, ainda havia epidemias graves em certas áreas. Mas a tendência é que as populações adquiram resistência, atingindo o equilíbrio biológico. As condições sanitárias também mudaram dramaticamente no século 20. Vieram as vacinas, a penicilina, a assistência de saúde melhorou, tudo isso ajudou a recuperar a população. Já o declarar-se índio tem a ver com um fenômeno ques e inicia nos anos 70, 80, que foi acentuado pela Constituição de 1988. Falo da recuperação da identidade indígena. Gente que foi "desindianizada" na marra passou a reivindicar sua origem. Em muita comunidade rural por esse Brasil as pessoas foram ensinadas, quando não obrigadas, a dizer que não eram índias. Pararam de falar a língua do grupo, tinham vergonha de seu passado, de seus costumes. Num processo em que ser índio deixa de ser estigma, e ainda confere direitos, essas pessoas que nada tinham na condição de brasileiros genéricos, buscaram o caminho da reetnização. Isso é assim mesmo. E desde quando buscar direito é tirar vantagem? A raiz do problemanão está no que o índio ganha, mas em quem perde com isso. Quem perde? Eis aquestão.
A desconfiança em relação a possíveis pleitos de autonomia tem a ver com oque se passa na Bolívia, país que mudou a constituição para atender aos índios?
É interessante como se tem invocado a Bolívia ultimamente. A população daquele país é quase toda indígena, enquanto no Brasil falamos de uma minoria irrisória. Zero vírgula zero alguma coisa. Lá é briga de índio. Curioso o Brasil temer virar uma Bolívia, quando uma das tensões sociais que se vê hoje por lá é justamente a presença de brasileiros. São grandes proprietários de terra.
As reivindicações dos índios na Bolívia podem ser imitadas aqui?
Mas o que os nossos índios estão pedindo? Passaporte de outro país? Dupla nacionalidade? Uma bandeira só para eles? Uma outra Constituição? Nada disso. O que eles pedem é justamente maior presença do Estado brasileiro onde vivem, para não depender da intermediação do político local. Isso osconstitui como uma nação à parte, no sentido jurídico? Evito esse conceito, porque tudo é nação no Brasil.
Como assim?
Tem nação nagô, nação rubro-negra, nação corintiana. Essa também é uma herança de Portugal, que, no passado, tratava os povos como nações em documentos administrativos. A rigor, nação é uma construção subjetiva, um compartilhamento de sentimentos e cultura. É isso. Mas a turma do discurso do pânico pensa assim: primeiro o índio tinha vergonha de ser índio, depois viu que é bom ser comunidade. Daí ganhou terra, vai querer autonomia e fundar uma nação. Ora, quem diz isso nunca colocou o pé numa terra indígena.
Os afrodescendentes deveriam pleitear os mesmos direitos que os índios?
São situações diferentes. De cara, vou dizer que sou favorável às cotas para negros. Mas os afrodescendentes estão espalhados pelo Brasil e não têm a mesma dinâmica de identidade que os indígenas têm. Um caso à parte são os quilombolas, ao provarem seu vínculo territorial. Veja bem, quando falo de índio, ao longo de toda esta entrevista, falo de populações territorializadas. E, atenção, falo de direitos coletivos, não individuais.Por isso é que o caso dos quilombolas parece guardar certa correspondência. Porque são comunidades rurais descendentes de escravos, que puderam manter uma continuidade histórica e uma certa coesão do ponto de vista patrimonial e demográfico. Por isso é que a Constituição reconhece seus direitos territoriais. São direitos compensatórios, é verdade, mas representam um avanço.
Professor, quem é, afinal, índio no Brasil?
Vamos mudar a pergunta: quem está autorizado a dizer que é índio? Eu não estou. Esse é um problema fundamental: quem está autorizado a dizer quem é quem, quem é o quê. Fazer disso uma questão de peritagem me parece uma coisa monstruosa. Ninguém se inventa índio, ninguém sai por aí reivindicando uma identidade escondida, recalcada, eu diria. Vá ver de perto e descobrirá que é assim que a coisa acontece. Portanto, não é índio quem quer. Mas quem pode. Não é negro quem quer. Mas quem pode.
Como assim?
Se você souber que um grupo de hippies do Embu, em São Paulo, se diz descendente de guarani, muito bem, terão de ver se isso cola. Se colar do ponto de vista social, e não estou falando do ponto de vista jurídico, então colou. Costumo dizer que, no Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é. Quem não quer ser é quem ativamente se distingue. Para facilitar: digo que é índio aquele que pertence a uma comunidade que se pensa como tal. Também não estou levando em consideração o DNA. Mais recentemente, divulgou-se um estudo segundo o qual a presença do negro e do índio é muito mais alta do que se suponha na média do patrimônio genético brasileiro. Somos algo como 33% de índio, 33% de negro, 33% de branco. O que nos leva a supor que o estupro foi uma prática muito usual. É claro que os genes vieram pelas mulheres negras e índias, submetidas ao homem branco. Diz-se que 49,5% dos 225 povos indígenas do Brasil são constituídos, ca daum, de no máximo 500 indivíduos. Vem daí a idéia de que é pouca gente para muita terra?Mas no Estado de Roraima há meia dúzia de arrozeiros fazendo esse estardalhaço todo. Meia dúzia! Também não é pouca gente? Como é que comunidades tão pequenas podem ameaçar o Brasil? Só se forem criar Estados de Mônaco. Utilizar o índio como modelo de latifúndio, como se tem feito, é um prodígio de má-fé. Índio também vende madeira? Claro que vende. Mas só ele? E os outros?
Desses 225 povos, 36 têm populações parte no Brasil, parte em países vizinhos. Não é um potencial de conflito imenso?
Se algum país está o preocupado com isso, certamente não é o Brasil. O fatod e haver guaranis no Brasil e na Argentina é mais problema para o vizinho. Compare as duas populações, compare o tamanho dos países. Ter ianomâmis noBrasil e na Venezuela sempre foi complicado para o lado de lá, porque aVenezuela tem petróleo. Mas agora o Brasil também tem, nem precisamos ficar mais com complexo de inferioridade (risos). Qualquer tentativa de ver um problema aí é artificial. O que se sugere? Que se levante uma cortina de ferro para impedir que os ianomâmis passem de um lado para o outro? Por que índios podem cruzar a fronteira Brasil-Uruguai livremente, e não podem cruzar a fronteira Brasil-Venezuela? Por que temos medo do Chávez? Ter comunidades dos dois lados faz da fronteira uma zona de frouxidão. Será que é isso? A fronteira mais complicada do Brasil, hoje, é com a Colômbia, por causa das Farc, e os índios não têm nada a ver com isso. Aliás, eles atrapalham a guerrilha.
Por quê?
Porque há mais presença do Estado nas áreas onde vivem. Não vejo como os índios possam perturbar a segurança de nossas fronteiras e, lembrem-se, populações binacionais existem em várias partes do mundo. Pensemos também no bilingüismo. Até final século 18 em São Paulo falava-se a língua geral, o nhangatu, uma derivação do tupi. Foi uma língua imposta pelos missionários, até hoje ouvida em alguns locais da Amazônia. Mas ainda ouvimos cerca de 150 línguas indígenas, o que representa uma diversidade incrível. A lgumas dessas línguas são tão diferentes entre si quanto o português do russo, até porque pertencem a troncos diferentes. E são faladas por indivíduos bilíngües, que adotam também o português no dia-a-dia.
Digamos que os não-índios deixem a Raposa. Os índios de lá poderão plantar e fazer lucro? Poderiam virar arrozeiros?S
im, podem plantar e vender. Podem até virar arrozeiros. Mas terão de produzir dentro de limites muito estritos, sujeitos a leis ambientais severas, não se esqueça de que a reserva integra o Parque Nacional de Roraima. Também não podem explorar o subsolo, a não ser o que há no solo de superfície. Mas francamente acho que a população indígena jamais entrará de cabeça no modo de produção do agronegócio, que eu chamo de modelo gaúcho, porque isso simplesmente não bate com seu modelo de civilização. Por isso insisto tanto em dizer que estas não são terras de índio, mas terras de usufruto dos índios. Nunca houve polêmica sobre a definição de reserva, porque se sabe que o domínio das terras é da União. Isso é inclusive a maior garantia para os índios. No dia em que não houver mais, eles serão invadidos imediatamente. Inclusive pelo Brasil, inclusive pelos arrozeiros. Só que no sentido técnico essa invasão já houve. Os índios não têm soberania porque já a perderam e se renderam. Suas populações foram invadidas, exterminadas, derrotadas. O que eles querem é que os direitos de vencidos sejam respeitados. Não se pode infligir uma segunda derrota a eles. Isso é contra as leis, contra tudo.
Ou seja, o que parece privilégio é direito de vencido?
Inimigos muito mais graves foram mais bem tratados, quando vencidos. Veja o que aconteceu com os alemães depois do final da guerra. Com todos os tribunais e punições que se seguiram, o país foi reconstruído das cinzas. E o que dizer da guerra implacável contra os índios? Foram exterminados, tratados como bichos, escorraçados por um discurso de língua de cobra em que metade diz que vai defender a pátria e metade vai colocar o dinheiro no bolso. Não, os índios não estão em guerra com o Brasil. Os da Raposa brigam com meia dúzia de arrozeiros que, por sua vez, não representam o Estado brasileiro. Uma coisa me parece estranha: encarregado pela ONU, o Exército brasileiro lidera uma missão militar no Haiti, mas não consegue tirar de uma reserva indígena seis fazendeiros?
A Constituição brasileira está fazendo 20 anos. O que representou para os índios?Foi um avanço, mas ainda falta regulamentar muita coisa. É impressionante como a Constituição tem inimigos. Todo mundo quer tirar dela uma lasca, com cinzel e tudo. O artigo referente aos direitos indígenas é um dos mais visados. Há pelo menos 70 projetos de lei tramitando no Congresso Nacional, nesse campo específico, e todos pretendem diminuir as garantias do direito às terras. Mais de 30 dessas proposições querem alterar os procedimentos de demarcação. Buscam reverter processos administrativos. Os oito deputados federais do Estado de Roraima apresentaram projetos para suspender a portaria que criou a Raposa Serra do Sol. Toda bancada é contra a reserva. O projeto de regulamentação para mineração, do Jucá, é primor de como se pode erodir direitos, comendo o pirão pelas beiradas. Em compensação, o projeto de lei que substitui o Estatuto do Índio está há 14 anos parado noCongresso. O que existe, claramente, é a tendência de redução de proteção jurídica aos povos indígenas. E, conseqüentemente, de redução da presença e da soberania da União nessas áreas.
O senhor desenvolveu uma teoria conhecida no mundo todo como "perspectivismo amazônico"². É vista como uma grande contribuição à antropologia.
Não sou eu quem vai dizer isso...
Mas parece que o senhor conseguiu inverter o ponto focal, digamos assim, dos estudos indígenas. É isso mesmo?
Fiz um trabalho teórico que não é só meu, é dos meus alunos também. Faço uma experiência filosófica que no fundo é muito simples. Temos uma antropologia ocidental, montada para estudar os outros povos, certo? O que aconteceria se vocês imaginassem uma antropologia feita do lado de lá, ou seja, do ponto de vista indígena? Foi isso que me levou a entender que, para os índios, a natureza é contínua, e o espírito, descontínuo. Os índios entendem assim: há uma natureza comum e o que varia é a cultura, a maneira como me apresento. Daí a preocupação de se distinguir pela caracterização dos corpos. E as onças, como se vêem? Como gente. Só que elas não nos vêem como gente, mas como porcos selvagens. Por isso nos comem. Enfim, para os indígenas, cada ser é um centro de perspectivas no universo. Se eles fizessem ciência, certamente seria muito diferente da nossa, que de tão inquestionável nos direciona a Deus, ao absoluto, a algo que não podemos refutar, só temos de obedecer. Os índios não acreditam na idéia de crer, são indiferentes a ela, por isso nos parecem tão pouco confiáveis (risos). No sermão do Espírito Santo, padre Antonio Vieira diz que seria mais fácil evangelizar um chinês ou um indiano do que o selvagem brasileiro. Os primeiros seriam como estátuas de mármore, que dão trabalho para fazer, mas a forma não muda. O índio brasileiro, em compensação, seria como a estátua de murta. Quando você pensa ela está pronta, lá vem um galho novo revirando a forma.

Link : Estadao.com.br

Comentário de Otto Mendes
Vocês podem notar, nesta entrevista, o racismo dos dois entrevistadores em relação aos povos indígenas e como são do Estadão, um jornal nojento composto por pessoas de reputação duvidosa, tem a orientação neoliberal. as perguntas que els fazem sobre a Bolivia são ridiculas e preconceituosas. E ao tratarem os indígenas como latifundiários (risos), mostram a mesma orientação da Veja e do Boris Casoy, que fazem um violento ataque a demarcação de terras indígenas e mesmo contra os direitos dos povos indígenas do Brasil, cujo os dois citados são inimigos ferrenhos. quanto ao discurso do ministro do Supremo Tribunal, bem, ele está defendendo os seus interesses e os interesses de seus comparsas, e convenhamos o judiciario brasileiro é um esgoto de ratos. Mas, o Estadão sempre foi assim. Na década de 1980, este jornal sujo, forjou provas acusando o Conselho Indigenista Missionário de explorar minério em terras indígenas ( há!, há!, há!, há!, há!, há!), medida que teve o apoio dos safados que hoje integram o PMDB, o PSDB e o DEM, inclusive criaram uma CPI para investigar o caso, mas, a safadeza tanto do Estadão como dos deputados e sanadores que apoiaram as mentiras do jornal, foram rapidamente desmentidas e o Conselho Indigenista Missionário provou que os documentos tinham sido forjados e eram falsos. Todos se calaram e rezaram para não serem processados. O Estadão, a Folha de São Paulo, A Veja, a Época, a IstoÉ, o Globo, o Jornal do Brasil, a Rede Globo e a Band são os veiculos de comunicação que sempre se mostraram contra os povos indígenas no Brasil, inclusive apoiando o assassinatos de indígenas. Parem de ler e ver essas merdas!

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Que fase !


Por Otto Mendes


Nas Tvs, continua a exposição de Isabella, a Cadáver Propaganda, o maior sucesso de vendas dos últimos tempos. O grande problema para a mídia é a condição econômica dos acusados, são da mesma classe social ! Não podoa ter sido um pobre ? Já tava preso !

Outro assunto que está ocupando a mídia é a campanha, encabeçada pela Globo, Band e SBT contra a demarcação em área contínua de Raposa Serra do Sol. Tanto que deu motivo para o cientista-presidemente Lula fazer o que tanto desejava, para agradar seus "heróis" e novos amigos, reverter a homologação deste território indígena. Não poemos estranhar a reação do STF, que só está protegendo os seus interesses e de seus aliados. Mais uma vez, neste governo horroroso e vergonhoso, teremos a redução de uma área indígena. Nem o PSDB e o DEM, que governaram o Brasil por quinhentos anos, teriam tal atitude. O PT é um partido podre, composto por canaljas que iludiram durante décadas pessoas que queriam mudanças de verdade. Não posso deixar de mencionar, que um antigo deputado federal do PT, que usou a UNE para se lançar como político e que agora é prefeito de um município do Rio de janeiro (meus pesâmes aos habitantes de tal município), foi um dos primeiros a se colocar contra a demarcação de Raposa, quando escreveu um relatório afirmando as mesmas baboseiras que falou o generalsinho e outros idiotas do PC do B, do DEM, do PSDB e do STF. Temos que ficar alerta que tem prenuncio de golpe militar, com apoio da Globo, Band e da oposição, além de vários membros que apoiam o governo, e que não iriam achar ruim um golpe militar, com Sarney, os Magalhães, Delfim Neto, Passarinho.


Outra bandeira do governo, aliados, oposição e da mídia é a promoção do etanol, que vai beneficiar alguns brasileiros e estrangeiros, enquanto o povão toma no rabo. Enquanto isso, os alimentos que são oferecidos à população são de péssima qualidade, principalmente por causa do uso excessivo de veneno, que não sai dos alimentos nem lavando, uma prova da "grande tecnologia" aplicada no campo ( risos). Para comer alimentos de qualidade, é preciso pagar caro, o que restringe o consumo de alimentos organicos a poucos brasileiros, inclusive os que grilam e roubam terras para plantar em grande escala, com excesso de agrotóxicos, e cujo os melhores produtos vão para o exterior, enquanto as sobras ficam para o mercado interno. Não que o produto que eles vendem para fora seja alguma coisa, é a mesma merda, só mais bonita!


TAPAUÁ É MAIS EMBAIXO



Texto de José R. Bessa Freire, para a coluna Taquiprati do Diário do amazonas de 20/04/08, e que me foi enviada pelo meu amigo Raoni Valle. Valeu monstro!!!

O texto de José Bessa é uma pá de entulho no discurso das elites, que querem por que querem saquear o território de várias comunidades indígenas, os parênteses são meus! Aproveitem a ótima leitura, poxa, eu gostaria de ter escrito este texto. (Otto Mendes)


TAPAUÁ É MAIS EMBAIXO
De José R. Bessa Freire


Dona Lourdes Normando dava aula particular em sua casa, no Beco da Indústria, bairro de Aparecida, Manaus. Às sextas-feiras, dia de sabatina, ela sapecava bolos de palmatória em quem errava a tabuada. Um dia, em 1955, na prova oral de geografia, perguntou: - "Seu Bessa-Freire, qual o rio que banha a cidade de Tapauá?". Era a primeira vez que eu ouvia falar em Tapauá nos meus sete anos de vida. Arrisquei: - "Rio Juruá". Rimava. Mas não era a solução. Ela, então, me fez copiar duzentas vezes a frase: "Tapuá fica no rio Purus". Fiquei com calos no dedo, mas nunca mais esqueci.


Lembrei do método de ensino da dona Lourdes nessa semana, quando li as declarações a O Globo do Comandante Militar da Amazônia, General Augusto Heleno. Ele aloprou. Criticou duramente o Governo, dizendo que a terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, demarcada por FHC em 1998 e homologada por Lula em 2005, constitui uma ameaça à soberania nacional, que "dar terras" aos índios em faixa de fronteira é uma ameaça à integridade nacional e blá-blá-blá, blé-blé-blé.


Foi apoiado pelo coronel Jarbas Passarinho, ex-ministro da Educação da ditadura militar, que na época, defendeu os acordos MEC/USAID, favoráveis à intervenção norte-americana na universidade brasileira. Mas agora, quando se trata de terra indígena, Passarinho vira 'nacionalista', fica macho pacas, e diz que Raposa Serra do Sol é uma "fronteira viva", ocupada por fazendas produtivas, que sua demarcação ameaça a integridade nacional e bli-bli-bli, blo-blo-bló.Foi apoiado pelo coronel Jarbas Passarinho, ex-ministro da Educação da ditadura militar, que na época, defendeu os acordos MEC/USAID, favoráveis à intervenção norte-americana na universidade brasileira. Mas agora, quando se trata de terra indígena, Passarinho vira 'nacionalista', fica macho pacas, e diz que Raposa Serra do Sol é uma "fronteira viva", ocupada por fazendas produtivas, que sua demarcação ameaça a integridade nacional e bli-bli-bli, blo-blo-bló. (1)


O chefe do Estado Maior do Leste, general Mário Madureira, vê o risco de os índios solicitarem a separação dessas terras do Brasil, como em Kosovo, e blo-blo-bló. O Clube da Aeronáutica publicou comunicado, subversivo e insolente, intitulado "Não recue, general Heleno", onde lhe manifestou seu apoio "até às últimas conseqüências" e mandou recado a Lula: "Não se atreva, presidente, a tentar negar o sagrado dever de defender a soberania e a integridade do Estado brasileiro". E blu-blu-blu.O chefe do Estado Maior do Leste, general Mário Madureira, vê o risco de os índios solicitarem a separação dessas terras do Brasil, como em Kosovo, e blo-blo-bló. O Clube da Aeronáutica publicou comunicado, subversivo e insolente, intitulado "Não recue, general Heleno", onde lhe manifestou seu apoio "até às últimas conseqüências" e mandou recado a Lula: "Não se atreva, presidente, a tentar negar o sagrado dever de defender a soberania e a integridade do Estado brasileiro". E blu-blu-blu. (2)


No plano político, a oposição aproveitou. O presidente nacional do DEM (vixe, vixe!), deputado Rodrigo Maia, o 'porquinho', divulgou nota. Nela diz que seu partido, órfão da ditadura militar, é contra a demarcação e blá-blá-blá, ble-blé-blé, bli-bli-bli. O líder do PSDB, Arthur Neto, mais discreto, discordou que um militar da ativa fizesse pronunciamento de caráter político, o que é um gesto de insubordinação, mas concordou com o conteúdo do discurso. (3)


Até o deputado Aldo Rebelo (PC do B) cometeu um artigo, no qual escreve que "a demarcação contínua da reserva Raposa Serra do Sol foi um erro geopolítico do Estado brasileiro". Jura que "chegamos ao paroxismo de tuxauas barrarem a circulação de generais do Exército em faixa de fronteira". Termina, elogiando os bandeirantes, o esquadrão da morte anti-indígena e bló-bló-bló, blu-blu-blu. Os mortos da guerrilha do Araguaia tremeram em seus túmulos: "Foi para isso que morremos?". (4)


O próprio Supremo Tribunal Federal (STF), em decisão inusitada, suspendeu a operação de retirada dos grileiros, ocupantes ilegais das terras indígenas, que resistem, armados, a uma ordem judicial. A partir daí, O Globo lançou campanha histérica de desinformação, berrando em manchetes que os índios querem decepar o Brasil. O editorial "Sandice Indígena" pontificou que "dar aos índios aquelas extensões de terras" é injustificável, porque significa a "desestabilização da agricultura local". (5)


Todos esses "defensores da Pátria" falam em "dar terras", mas ninguém "deu terras" aos índios. A Constituição apenas reconheceu o direito de os índios usufruírem os territórios que ocupam milenarmente e que são propriedade da União. Eu disse: DA UNIÃO. Os índios não podem vender as terras, nem podem dá-las como garantia para uma transação comercial, porque elas não lhes pertencem, são propriedades da União, quer dizer, de todos nós. Um fazendeiro, sim, pode vender suas terras a estrangeiros e impedir a entrada do exército, porque afinal a propriedade privada é sua. Os índios não. Acontece que as oligarquias, aves de rapina, acham que o que é público lhes pertence, interpretam que podem se apropriar dos espaços públicos.


Em entrevista à Rádio Bandeirantes, desmenti Aldo Rebelo. Nenhum general – imagina! - pode ser impedido de exercer suas funções constitucionais em terras indígenas, porque elas pertencem ao Brasil. Falei que já existem bases militares dentro de todas as terras indígenas de faixa de fronteira, que muitos índios servem o Exército como soldados, que apesar dos jarbas e dos passarinhos, os índios se sentem também brasileiros. Contei que assisti jogo da Copa do Mundo numa maloca indígena, em tv alimentada por bateria de carro, e que os índios vibravam com os gols da nossa seleção.


Como é que algumas centenas de índios, que amam o Brasil, armados de arco e flecha, podem ameaçar a soberania nacional? – perguntei ao radialista. Ele retrucou que alguns militares achavam que potências estrangeiras podiam manipular os índios (os fazendeiros não). Ponderei que, nesse caso, – hipotético - os militares deviam concentrar seu fogo contra essas potências - hipotéticas - e não contra índios indefesos, de carne e osso, e que, para isso, eu confiava nas Forças Armadas, que nos deu Rondon, corajoso, sensível e inteligente, defensor dos índios. Não existe nenhum argumento consistente que justifique expulsar os índios de suas terras. Por isso, o blá-blé-bli-bló-blu não se sustenta.


Por trás dessa orquestração, o que existe mesmo é a defesa de interesses particulares e não nacionais. Estão tentando confundir a opinião pública para justificar a usurpação de terras. Exigir que terras indígenas sejam – aí sim – "dadas" a fazendeiros significa privatizá-las, ou seja, entregar a alguns indivíduos as terras que nos pertencem. Guardiões das terras da União, os índios constituem uma garantia da soberania nacional, da biodiversidade e da sociodiversidade. Por que o usufruto pelos índios de terras que ocupam milenarmente ameaçariam a soberania nacional, e não assim a propriedade privada de fazendeiros, que inclusive possuem armas e poder de fogo?


Não foi FHC nem Lula que "deram" terras aos índios. Foi a Constituição de 1988 que reconheceu os direitos indígenas sobre as terras da União. Não é uma política de governo, é uma política de Estado. Rebelar-se contra isso é afrontar a lei maior do país. A lei existe para ser respeitada por todos, do contrário, vira bang-bang, faroeste, como aliás já está acontecendo em Roraima. Quatro arrozeiros se armam e desobedecem uma decisão que cumpriu todos os requisitos legais, num ato jurídico perfeito. O STF, ao recuar, estimula os grupos que reagem com violência contra a lei, quando ela fere seus interesses. Quem gritar mais alto, leva? (6)


O ministro da Defesa, Nelson Jobim, que chamou o general Heleno na catraca, declarou: "a questão está superada". Superada é uma ova! Precisamos berrar a plenos pulmões que o que estão dizendo não é verdade: Tapauá não fica no Juruá. Não se pode desinformar, impunemente, as pessoas.


Proponho aplicar, sem a palmatória, o método da dona Lourdes obrigando todos aqueles que confundem a opinião pública a escrever mil vezes a frase: "as terras indígenas pertencem à União e não ferem a soberania nacional, as terras indígenas pertencem à União e não ferem a soberania nacional". Criarão calos nos dedos, mas ficarão convencidos, se agem de boa-fé, daquilo que nós já sabemos: que Tapuá é mais embaixo.



(1) - (Eu acho um absurdo que figuras que apoiaram e participaram ativamente da ditadura militar, possam falar em soberania ou mesmo em democracia. Pessoas como delfim Neto, Jarbas Passarinho e outros deste tipo deviam ficar caladinhos!!!)


(2) - ( No Brasil, o exército é um inimigo histórico dos povos indígenas, pois, a missão desta força sempre foi o exterminio ou a integração forçada dos indígenas, além da proteção dos interesses das elites brasileiras ou não)


(3) - (PSDB e DEM estiveram no poder durante 500 anos, por isso, somos um país miserável. Não se deve levar a sério nada o que essas pessoas dizem, só estão defendendo seus interesses seculares)


(4) - ( O deputado aldo Rebelo é um inimigo histórico dos povos indígenas. Quando presidente da FUNAI, sempre trabalhou no sentido de entregar as terras indígenas a iniciativa privada)


(5) - (Quem são os membros do STF ? Quem vocês acham que eles defenderão numa causa como essa: os indígenas ou seus companheiros de banquete? Quanto a Globo: é mais um canal de Tv a serviço dos interesses das elites e do neoliberalismo. A Bandeirantes também está fazendo campanha acirrada contra a demarcação em área continua de Raposa Serra do Sol, não leio essas porcarias, mas, tenho certeza que essa campanha também deve estar sendo feita pela Veja e pelo Estadão)


(6) - (Nesse ponto discordo do autor, quem garantiu os diritos indígenas, na Constituição de 1988 foram os próprios indígenas brasileiros, pois, se não fosse a luta e a pressão que eles fizeram no Congresso Nacional, os constituintes de 1988 teriam lascado com os povos indígenas. Nem o Estado ou qualquer governo jamais "deu" qualquer coisa aos povos indígenas brasileiros, todas as conquistas alcançadas foram fruto da luta incansável dos indígenas em todo o país!!!)

sábado, 19 de abril de 2008

Documento dos indígenas de Raposa Serra do Sol


“Terra Livre: resistir até o último índio”

Nós, comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol, iniciamos a partir de hoje, 18 de abril, o movimento “Terra Livre: resistir até o ultimo índio”, com o objetivo de consolidar o decreto de homologação da Raposa Serra do Sol, assinado há mais de três anos pelo presidente da República.

A partir desta data, 300 indígenas estarão acampados na maloca do Barro, que um dia já foi chamada pelos ‘brancos’ de vila Surumu ou Vila Pereira. Caso não seja respeitado o decreto de homologação, o nosso movimento chegará a 5.000 índios dispostos a defender a terra dos ataques terroristas dos invasores.

Nós, em nossas assembléias, decidimos dar 48 horas para o invasor da nossa terra, Sr. Paulo César Quartieiro deixar espontaneamente a terra indígena Raposa Serra do Sol, uma vez a Funai já depositou o valor de sua indenização em juízo. Com isso entendemos, se o mesmo quiser questionar o valor da indenização que seja fora da terra indígena Raposa Serra do Sol.

Há mais de trinta anos sofremos com num dramático processo de reconquista das nossas terras, que acreditávamos seria concretizado pelo Estado Brasileiro, em cumprimento à Constituição Federal. Porém, fomos surpreendidos por uma medida judicial, que em caráter liminar impediu, provisoriamente, a retirada dos invasores da nossa terra.

Chega de tanto sofrimento, já esperamos demais! Tivemos calma, muita paciência e confiança nas autoridades, mas agora basta! Podemos decidir sobre o nosso futuro e tomar providências, com a união do nosso povo, estamos pedindo gentilmente que os outros invasores que já receberam suas indenizações e aqueles que estão com suas indenizações depositadas em juízo, deixem a nossa terra livre.

Também queremos trabalhar e desenvolver para contribuir com o crescimento sócio-econômico do estado de Roraima e do Brasil. Chega de sermos acusados de atrapalhar o desenvolvimento do Estado de Roraima! Chega de tanta discriminação e preconceito contra os povos indígena de Roraima. Somos cidadãos brasileiros em pleno exercício dos nossos direitos.

Queremos punição aos culpados pelas destruições das comunidades indígenas Jawari, Homologação, Brilho do Sol, Retiro Tai Ta (ano 2004) e Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol (2005) e todos os outros crimes ocorridos em nossa terra, principalmente os atentados terroristas dos últimos dias.

Assinam:
Comunidades Indígenas da Raposa Serra do Sol

Por que a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol virou debate no STF?

Indígenas indignados com o STF
(foto de Kleber Lima, Correio Brasiliense)

Por Roberto Liebgott, vice-presidente do Conselho Indigenista Missionário

Há mais de 30 anos os povos Macuxi, Wapixana, Taurepang, Ingaricó lutam pela demarcação de suas terras. A reivindicação destes povos está amparada pela Constituição Federal, em seu Artigo 231. Nesta terra, ao longo de mais três décadas, ocorreram dezenas de conflitos, onde lideranças indígenas foram assassinadas, torturadas, comunidades agredidas, malocas incendiadas, pessoas seqüestradas e terras devastadas por garimpos ilegais e pela ação predatória de centenas de invasores.

Em 2005, o governo federal decidiu pela homologação desta terra. Este ato do presidente brasileiro não foi uma concessão e nem atitude de benevolência. Foi o cumprimento de uma determinação constitucional, orientada e delimitada pelos resultados de longos anos de estudos e comprovações antropológicas, históricas, arqueológicas e sociológicas da ocupação tradicional dos povos indígenas naquele território. Também foi conseqüência de décadas de mobilizações e campanhas de solidariedade em âmbito nacional e internacional pela defesa dos direitos indígenas.

A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender a operação que finalmente retiraria os invasores das terras indígenas dos povos de Roraima, mostra que a “Suprema Corte Brasileira”, os considera uma ameaça à soberania nacional, ou, como disse o próprio presidente da República, “entraves ao desenvolvimento”. Estes povos que sistematicamente defenderam o território brasileiro, ali construíram suas histórias, enfrentaram as mais terríveis adversidades, os mais poderosos inimigos, inclusive da Pátria, para defender o Brasil de invasores clandestinos, de contrabandistas, narcotraficantes, mineradores, garimpeiros, de colonizadores genocidas, de gente sem pátria.

Quando se pensava que a demarcação de suas terras, trariam às comunidades indígenas, paz para continuar vivendo com dignidade de acordo com seus costumes e suas culturas específicas, o STF volta a debater a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol. São preocupantes algumas declarações de importantes ministros daquele Corte:

“A demarcação desta terra trará problemas a soberania nacional” (ministro Celso de Mello).

“O que não pode é você criar um estado e depois criar uma reserva que tenha 50%, 60% do seu tamanho” (ministro Gilmar Mendes).

Por que, depois de mais de 30 anos, os ilustres ministros resolverem considerar que a demarcação da referida terra indígena traz perigo a soberania do país? Por que meia dúzia de arrozeiros, invasores da terra indígena, poderão produzir arroz se sobrepondo aos direitos constitucionais de mais de 18 mil indígenas? E ainda, por que os seis arrozeiros produzirão riquezas ao Estado e os povos indígenas, legítimos ocupantes daquela região, produzirão apenas prejuízos?

Quais os fundamentos legais para que ministros do STF qualifiquem os indígenas como entraves ao desenvolvimento e a soberania nacional, enquanto os invasores, praticantes de inúmeras ilegalidades constitucionais porque ocupam indevidamente e de má fé propriedade da União, além de praticarem crimes contra as comunidades indígenas e à sociedade de Roraima com a destruição de patrimônio público, como a queima de pontes, são considerados, pelos ilustres ministros, agentes do desenvolvimento econômico?

É preciso chamar a atenção dos ministros do STF para o fato de 3,1 milhões de hectares de terras na Amazônia Legal estarem nas mãos de estrangeiros. A informação é do próprio presidente do Incra, Rolf Hackbart. A área corresponde a 39 mil imóveis rurais, mas pode ser ainda maior. O avanço do agronegócio e os altos preços dos grãos têm chamado a atenção dos estrangeiros, o que tem aumentado a especulação imobiliária na região. Terras estariam sendo vendidas até pela internet. As terras indígenas, ao contrário, quando reconhecidas tornam-se patrimônio da União, cabendo aos índios apenas o seu usufruto.

Cabe ainda questionar, se por trás do debate instalado no STF sobre a demarcação de Raposa Serra do Sol, não há questões políticas envolvidas. Os direitos dos povos indígenas não estariam mais uma vez servindo de “moeda de troca” no jogo político nacional?

O caso Raposa Serra do Sol evidencia para quais dos lados penderão as análises e as interpretações de nossas autoridades. Ou aos Povos Indígenas portadores de direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, e que a Constituição Federal lhes assegura, ou para os invasores, que apenas pretendem obter o lucro fácil em terras alheias, como é o caso dos invasores arrozeiros da terra Raposa Serra do Sol.

Porto Alegre (RS), 16 de abril de 2008.

Roberto Antonio Liebgott
Vice-Presidente do Cimi

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Isabella, a cadáver propaganda


Por Otto Mendes
Pois é, senhores, ninguém agüenta mais, é ligar a TV e lá está ela, Isabella, a cadáver propaganda, rendendo muito dinheiro para nossas emissoras de TV. Bandeirantes, Globo, SBT, Rede TV e Record estão faturando alto com o assassinato desta menina de cinco anos. Há tempos nossas redes de televisão não tinham uma mina de ouro como essa nas mãos. É hilariante assistir os programas de todas as emissoras, que não comentam mais nada a não ser a morte de Isabella, quando os apresentadores, fingindo indignação pelo crime, no meio das inúmeras matérias sobre o caso, onde 99% é inútil, param de repente de falar, abrem um sorriso, e apresentam um produto para os espectadores. Vendem de tudo; câmeras de vídeo em 36 vezes, produtos de beleza, sorteio de uma BMW conversível, produtos dietéticos. Isabella o cadáver propaganda vende o que nós quisermos, eu estava até a pensar se o blog O Cabano não podia contratá-la como cadáver propaganda, o que vocês acham?
Agora, o caso desta menina dá o exemplo perfeito de como funciona a justiça para os ricos e para os pobres, no Brasil. Vejamos: se Isabella fosse pobre, ninguém se importaria com a morte dela, no máximo uma noticia e pronto! Os pais delas, provavelmente teriam sido torturados , e por isso, já teriam confessado o crime (mesmo se não fossem eles), o pedido de hábeas corpus teria sido negado pelo juiz, pelo fato deles serem pobres (igual ao pobre coitado que está apodrecendo na cadeia em Maceió, por roubar um queijo!) e o caso já estaria resolvido. Mas, como a família dos suspeitos tem dinheiro, a policia trabalha com muita cautela, pois, nenhum delegado ou policial brasileiro prende um rico sem ter provas inquestionáveis do seu crime, por isso, a policia de São Paulo trabalha com medo de tomar no fiofó, se prender os dois sem provas. Notem como a policia transportou os dois suspeitos, quando eles foram presos: com toda a educação, não foram algemados, nem agredidos e foram dentro do carro da policia. Agora, se fosse um casal pobre, teriam sido algemados com as mãos para trás, empurrados, colocados atrás, no camburão e daí em diante. A polícia atuou com tanta cautela que não tem a minima prova da autoria do crime, qualquer advogado ganha a causa do casal, que por sinal, já foi declarado culpado pela imprensa, e a casa do pai dele está sendo alvo da fúria das pessoas. A polícia devia mandar o Datena, a Olga, o pessoal do Mais Você, e outros jornalistas e apresentadores tirar aquelas pessoas de lá, pois, eles são o culpado de tudo isso.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

É muita cara de pau!

Jayme Campos (DEM-MT), criminoso ambiental
que vai presidir a comissão ambiental!!

Por Otto Mendes

Vejam bem, como o Congresso Nacional é uma instituição séria e comprometida com a justiça social e com o nosso povo. Pois, foi escolhido para presidir a comissão que vai apurar as denuncias de desmatamentos na Amazônia o senador Jayme campos, latifundiário que já foi autuado por ato danoso ao meio ambiente pelo IBAMA. O senador possui uma fazenda no norte de Mato Grosso, em Alta Floresta, de nome Santa Amália, onde este ilustre defensor da natureza recebeu uma multa, em julho de 2007, no valor de R$ 3. 615.060,00, por desmatar floresta nativa ao longo de curso d´água e áreas de nascente (áreas de preservação permanente - APPs), esta fazenda tem 1.205 hectares. Pois, é este o homem que vai fiscalizar e denunciar as queimadas na Amazônia e ele ainda afirma que não haverá conflito de interesses. Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há!

Realmente vivemos num país de comediantes muito caras de pau! O Congresso Nacional, mais uma vez, prova que é uma instituição que não merece o menor crédito ou respeito de nós, povo brasileiro.

Resposta ao usineiro

Uma foto da cidade de Piracicaba fora
da época de queimada de cana (na matéria
anterior vejam como fica na época das
queimadas)

Por Otto Mendes

Um dos que acompanharam o cientista-presidemente Lula, nessa viagem de defesa do etanol pela Europa foi o usineiro Maurílio Biagi, um dos maiores do Brasil e dirigente da Unica (associação paulista do setor). Este senhor afirmou, na maior cara de pau que as críticas contra o etanol revelam uma luta de Davi contra Golias, "porque existe uma hipocrisia muito grande contra o etanol" e que nenhuma crítica é justificada, nem a ambiental, nem a social, nem a econômica! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! É inacreditável que um usineiro, herói de Lula, tenha a coragem de falar tanta baboseira sem ser preso em flagrante!

Caro usineiro, a mentira tem pernas curtas e nenhum europeu, com o mínimo de inteligência pode acreditar em tamanha besteirada. Vamos responder cada tópico da sua resposta:

Questão ambiental: para começar, a cana-de-áçucar precisa de amplos espaços, contribuindo para a destruição ambiental, já que muitas florestas e matas precisam ser derrubadas, prejudicando o ecossistema local. Outra contribuição da cultura de cana para a devastação ambiental é o uso excessivo de veneno, que escorre para rios, nascentes, lagos e até para o mar, acabando com peixes e com a flora aquática. Também temos a grande contribuição das queimadas, que despejam grandes quantidades de monóxido de nitrogênio (NO) e de dióxido de nitrogênio (NO2) na atmosfera. Quando não há queima o uso de fertilizantes nitrogenados contribuem para a emissão desses gases para a atmosfera. Tanto o uso de fertilizantes quimicos quanto dos venenos destroem o solo, como eu vi nas áreas invadidas pelas usinas em Potiguara, na Paraíba.

Questão social: ao precisar de grandes extensões de terras, as usinas expulsam, com o apoio dos governos estaduais, municipais e federal, o pequeno agricultor, o indígena e os quilombolas de suas terras, criando uma grave situação social de miséria e exclusão, contribuindo para o aumento da violência nas cidades e no campo. Para os que permanecem no campo só sobra o trabalho nos canaviais que oferecem péssimas condições de vida, quando os trabalhadores não viram escravos dos usineiros. A queima da cana prejudica a saúde de quem mora no entorno dos canaviais. Em Araraquara, São Paulo, cuja área de cana atinge 40% da região, durante a época de queimada, as internações decorrentes de asma, hipertensão e outros problemas respiratórios aumentaram muito, causando um prejuízo para o Estado e aos cidadãos com os custos dessas internações, além do prejuízo causado pela falta ao trabalho de muitos doentes.

Questão econômica: ora, caro usineiro, com tudo o que foi dito acima, já era o suficiente para provar que a cultura de cana e a produção de etanol não vale todo esse investimento. Para o Brasil se adequar a demanda que está se criando, será precisos ter disponível só para a plantação de cana 30 milhões de hectares de terras, ou seja, uma devastação ambiental nunca vista antes. Será o fim de muitas florestas e matas seculares. O aumento da emissão de gases vai triplicar e a exclusão vai atingir níveis nunca vistos antes. O custo da produção de etanol não compensa de jeito nenhum os danos que ele causa.


Meu cientista-presidemente, me arrependi!

A foto mostra a cidade de Piracicaba
na época da queima de cana-de-áçucar



Por Otto Mendes





É com emoção que acompanho a defesa apaixonada do cientista-presidemente Lula da monocultura de cana-de-áçucar e dos seus amigos e heróis usineiros. Nosso dirigente maior não ficou só nas palavras firmes, como as que disse na Holanda, de que culpar os biocombustíveis pelo aumento dos preços dos alimentos é "uma falácia, uma mentira deslavada", e com sua sempre presente perspicácia matou a cobra e mostrou o pau, ao concluir que os alimentos subiram de preços porque os pobres estão comendo mais!!!! Fico imaginando a cara e a reação das pessoas que estavam no local, naquele momento, sem saber se era o talento cômico de nosso cientista-presidemente que se revelava mais uma vez, ou se era mais um estalo, uma explosão da mente privilegiada de nosso chefe maior! Sim, companheiros, a culpa é dos pobres! Precisamos impedir que os excluídos da África, da Índia, da Palestina, das Américas e seja lá de onde forem comam demais. E nosso líder-mor, com sua inteligencia superior, já se antecipou aos fatos: trata de defender e financiar, com o nosso dinheiro, a produção de cana para aumentar a destruição ambiental, o latifúndio, a concentração de renda e a emissão de gases poluentes, tudo para impedir que os pobres comam muito. Que rapidez de raciocínio!
Não posso deixar de homenagear toda a sua equipe de governo, muito equilibrada, que formam uma tropa de auxílio de nosso cientista-presidemente, e por isso, também merecem o crédito de decisões tão coerentes.
Mas, como acima foi citado, nosso amado condutor não ficou apenas nas palavras a sua defesa aos hérois usineiros, nosso dirigente maior foi além, vai desperdiçar nosso dinheiro para montar uma força-tarefa, envolvendo o Ministério do Meio Ambiente e da Agricultura e Desenvolvimento Agrário, para montar uma estratégia de informações que mostre uma boa imagem do etanol. Os usineiros também vão participar desta força-tarefa, e nós contribuintes vamos pagar muitos passeios a Europa, para um bando de desocupados, pois, tenho certeza que nosso líder não vai deixar que os heróis usineiros paguem suas despesas.
Fiquei matutando sobre este assunto e criei um pequeno filme publicitário, para convencer aos europeus de que o etanol é uma boa: começaria contando como a cultura da cana começou no Brasil, com a invasão deles, europeus, matando milhares de indígenas, escravizando, roubando terras e torturando-os física e moralmente. Essa primeira parte teria uns três minutos e seria importante para mostrar ao público alvo (os europeus) que eles são os responsáveis por tamanha maravilha, o que encheria a bola deles. A narração dessa parte seria de nosso magnânimo cientista-presidemente Lula, claro! A segunda parte, com narração de FHC, aquele que esqueceu, também com três minutos de duração. (A narração de FHC vai dar um quê de intelectual-jumento a obra, além do mais, FHC é muito conhecido dos europeus, já que quando era presidemente não saia de lá, quase não pisava no Brasil) Essa parte exibiria a história de como, depois da "independência", nossos valorosos governantes e elites continuaram o legado de nossos colonizadores (mais uma puxada de saco, para angariar simpatias), mantendo e aumentando a escravidão, a exclusão, a concentração de terras e renda, e isso continua pela República, com as "eleições" fraudulentas, assassinatos, roubo de terras e os coronéis. A última parte seria um pouco maior, com uns quatro minutos, e neste derradeiro capítulo mostraríamos todas as estrelas deste governo: Lula, Ciro Gomes, Geddel, Dilma Rousseff, Sarney, Jader Barbalho e todos os aliados e mentores de tão esplendoroso plano. Nesta parte, encheríamos, mais uma vez, o ego de nosso patrícios europeus, mostrando que nosso governantes mantiveram, por 508 anos, a mesma base económica de nossos "fundadores": o latifúndio destinado a produção para exportação, exibiríamos como a cana-de-áçucar continuou agredindo o ambiente, como continua o trabalho escravo em muitos canaviais e usinas (velhos hábitos), podemos também mostrar a beleza de um canavial em chamas, incentivando a emissão de gases poluentes e afetando os pulmões de quem mora perto, exibiríamos também a grande quantidade de veneno despejado nas canas, para mostrar nossa evolução tecnológica, e como esse veneno escorre para os mananciais, nascentes, rios, mangues e outras fontes de água. Para finalizar, mostraríamos como os usineiros, numa onda de saudosismo, lembrando os tempos coloniais, continuam invadindo as terras indígenas, como as dos Potiguara na Paraíba.
Caro líder, tenho certeza que depois deste filme, os europeus vão fazer passeatas apoiando o etanol brasileiro, carros a gasolina serão queimados e só o nosso nobre biocombustivel vai ser aceito na Europa! E essa contribuição, meu cientista-presidemente, meu comandante neoliberal, faço por amor a nossa pátria, pois, não cobrarei nada por isso. Esta contribuição gratuita também foi feita por outro motivo: eu lhe devo isso, estou em divida com o senhor, meu guru do executivo. Sim, meu cientista-presidemente, estou em falta com sua pessoa: o meu crime foi não ter votado no senhor nas eleições passadas!!! Peço perdão de joelhos! No segundo turno, diante de dois candidatos tão iguais e esplendorosos, preferi votar em branco, para não cometer nenhuma injustiça. Decidi votar em branco, pois, equivocadamente, pensei que votar no senhor seria votar a favor da transposição, da venda do Rio Madeira, da construção de mais barragens e hidrelétricas, que votar no senhor seria apoiar a exclusão e a concentração de renda, seria apoiar o neoliberalismo. Também não votei no Alckimin, pois ele representava a mesma coisa que o senhor!
Mas, me arrependi, fui igual ao Geddel quando comentou porque, depois que entrou para o seu governo, ele mudou de opinião e passou a apoiar a transposição do rio são Francisco: eu só conhecia seus projetos genericamente! Mas, agora sei que são planos sérios, saídos de uma mente prodígio, pois, só o nosso caríssimo cientista-presidemente poderia prever que os pobres seriam culpados pela alta dos preços dos alimentos e por toda a violência e tensão causada por esta alta. Um gênio!!!
Espero que a minha humilde contribuição ajude a pagar pelo meu erro.
Durma bem!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Biodiesel e biocombustiveis

" Desculpe-me, eu preciso disso para mover meu carro."

Aniversário de Camilo Martins Vianna

Por Otto Mendes



Hoje, 14 de abril, completa 82 anos o médico e ambientalista Camillo Vianna, umas das maiores personalidades que a Amazônia tem ou já teve. Um homem que nunca usou a medicina para ganhar dinheiro, sua renda como médico vinha de seu cargo de professor da Universidade Federal do Pará, mas, no exercicio de sua profissão, nunca cobrou um centavo para seus pacientes, na grande maioria pessoas pobres que não poderiam pagar um clinico geral, ainda mais com a sua qualidade e dedicação. Camillo Vianna fundou, em 1968, a SOPREN, instituição que foi a primaira a relacinar cultura e ambiente. Para homenagear esse apaixonado pela Amazônia, publico aqui neste blog, pequenos textos que ele fez para a revista "Amazônia", e que ele permitiu que eu publicasse, para que todos possam tomar conhecimento do que é a Amazônia. A matéria se chama "Amazônia: Alguns aspectos da integração", e foi publicada em 2007.

AMAZÔNIA
Alguns aspectos da integração

Por Camillo Martins Vianna


Para a grande maioria dos brasileiros, de todos os quadrantes, a Amazônia é praticamente desconhecida, daí os erros e desacertos em grande escala. Quando o Poder Central, depois de parto laborioso, lembra de trazer algum benefício para os habitantes desta imensidão Verde, dificilmente a empreitada alcança os objetivos. É possível citar porém, um outro exemplo produtivo, tal seja, a ocupação e a integração da região pelos nordestinos, que não encontra paralelo em todo o continente sul, que é sem nenhum questionamento, uma verdadeira Epopéia, chamada, simbolicamente, de Cearencização[1] da Amazônia. A seguir são relacionados aspectos contundentes dessa difícil e penosa integração.
Gigantismo territorial
O tamanho geográfico varia de acordo com o conceito, seja Amazônia Clássica, Ribeirinha ou Legal, sendo que esta não passa de artifício político, dificultando a compreensão da questão amazônica, com o objetivo de desviar verbas para outras regiões.
Lonjuras amazônicas
O não aproveitamento pleno da rede fluvial e o péssimo estado de conservação das rodovias federais, estaduais e municipais dificultam a ocupação e o precário desenvolvimento da Hiléia.
Distanciamento dos centros administrativos
Entrave dos mais significativos para a ocupação e desenvolvimento da Amazônia brasileira, que quase sempre fica à margem dos projetos[2]. Problema antigo, de difícil solução, vem desde o Descobrimento (Lisboa, Salvador, Rio de Janeiro e Brasília).
Desconhecimento da região
Por parte dos brasileiros de todas as camadas, a Amazônia vem sendo conhecida apenas pela violência ambiental, cultural, social e humana, sendo uma região, principalmente o Sul e Sudeste do Pará, de colonização recente, vitima de extrema agressividade até agora sem controle.
Trabalho escravo
O trabalho escravo está em franca expansão, praticado, principalmente, por fazendeiros e madeireiros do Sul e Sudeste do Brasil. Recentemente, na empresa PAGRISA S.A, no Pará, mil e cem trabalhadores foram libertados pela Equipe Volante do Ministério do Trabalho. A usina, a única na Amazônia que deveria produzir álcool, é subsidiada por verbas oriundas da Suíça, país que se diz altamente democrático[3].
Devastação ambiental
Apesar das boas intenções e mais de meia centena de projetos desenvolvimentistas, continua descontrolada e o que foi devastado nos últimos 50 anos supera os séculos anteriores[4].
Integração a ferro e fogo
Infelizmente, a maioria dos Projetos já apresentados não deram certo até agora e todos se intitulam como salvadores da região[5], o que inclui a suntuosa Operação Amazônia, lançada com toda a pompa e circunstância no então Território Federal do Amapá, ainda no governo militar.
Biopirataria
A região continua a ser área aberta ao saque apesar das tentaivas de se controlar o problema, o que vem sendo extremamente difícil.
Queimadas
Igualmente sem controle, aumentam com achegada do verão, quando suspendem as chuvas da região.
Pesquisa
Carência quase que absoluta de pesquisa por falta de apoio das autoridades, sendo apenas simbólica, diferente da que é feita por estrangeiros com autorização do governo brasileiro, ou não.
Endocolonialismo
Fenômeno constrangedor e que é um dos obstáculos para o desenvolvimento da região, acompanhado da ocupação desordenada pelos novos colonizadores do Sul e Sudeste do país.
Mascaramento
O chamado Arco da Devastação que caracteriza brutal agressão à floresta e, conseqüentemente, ao homem, mudou de nome e passou a se chamar de Arco de Desenvolvimento Sustentável, que ninguém sabe exatamente o que é.
Contrabando
80% da madeira exportada da região é de extração irregular e é encaminhada ao SDul e Sudeste do Brasil, principalmente para São Paulo[6].
Patenteamento
Cresce o número de produtos amazônicos patenteados por grupos estrangeiros, sendo muito difícil e trabalhosa a sua retomada[7].
Mineração
Verdadeiros enclaves caracterizam as supermineradoras que atuam na região e o rastro de destruição pode ser visto no Amapá, estigmatizando a Região Esplendorosa como simples exportadora de matéria-prima. É meramente simbólica a contrapartida deixada.
Pesca predatória
De difícil controle, seja na costa ou nas águas internas, sendo o contrabando de peixes ornamentais atividade altamente lucrativa para saqueadores, e vem ocorrendo, preferencialmente, no Rio Negro, no Estado do Amazonas.
Soja
Enquanto são realizadas intermináveis reuniões para resolver a questão, a soja chegou ao coração da Amazônia em ritmo acelerado, sendo altamente predatória, principalmente no Vale do Tapajós, e em Rondônia, onde a devastação vem sendo brutal.
Poluição de cursos de água
Cada vez mais constantes as denuncias de poluição, o que inclui os rios Amazonas, Pará e Trombetas, principalmente, por caulim, bauxita e alumínio, resultante da lavagem dos porões dos navios transportadores de minérios. Rios menores como Murucupí, Dendê e outros, incluindo a Baía do Marajó, sofrem, com o processo de deposição de rejeitos provenientes do complexo ALBRÁS-ALUNORTE, em Barcarena.
Participação da comunidade e expressão política
Ainda com pouca repercussão na tomada de posição em defesa do território amazônico e na busca do equacionamento de seus problemas.
Internacionalização
Processo antigo que tudo leva a crer está em forte expansão e deve servir de alerta ao povo brasileiro para uma enérgica reação, pois o assunto é muito grave.
Corrupção
A corrupção parece estar impregnada no dna de muitos cidadãos que atuam ou vêm atuar na Amazônia e o problema não está podendo ser resolvido nem a peso de promessa.
Centros culturais
Por que a Petrobrás, a Fundação Cultural Banco do Brasil e a Caixa Econômica não possuem centros culturais na Amazônia? Particularmente no Pará, com imensas riquezas minerais, energia elétrica, madeira, pescado e diversidade biológica e no Estado do Amazonas com a Zona Franca de Manaus, produção de petróleo no Rio Urucu, cujos os lucros são drenados para outras regiões e até mesmo para fora do Brasil.
Borracha
Vale a pena considerar que uma das mais importantes árvores do mundo, a seringueira (Hevea Brasiliensis) produtora de matéria-prima de primeiríssima qualidade, que já colocou o Brasil na linha de frente da produção do látex e promoveu o desenvolvimento[8] da região, não está merecendo do governo atenção necessária par a retomada da posição anterior, desconsiderando a existência de milhões desses exemplares em seu habitat natural.
Reação
É crescente o interesse estrangeiro pela Amazônia brasileira no que diz respeito a ocupação armada, daí ser necessária a tomada de posição urgente antes que seja tarde.
Alerta vermelho
Relação parcila, dos líderes mundiais, que deixaram seguidores, e que aconselham a ocupação da Amazônia através do uso da força: Madeilene Albright, Margareth Thacher, Makhail Gorbachev, John Major, Henry Kissinger, General Patrick Hughes e Conselho Mundial das Igrejas Cristãs. Recentemente, Coffi Anan, ex-secretario geral da ONU, deu parecer favorável a esse tipo de iniciativa.
Cabanagem
Já é tempo de se programar semana de festejos em homenagem à Cabanagem, movimento libertatório ocorrido no Pará e um dos mais importantes do Brasil, o mesmo valendo para outras unidades federativas da grande dádiva do povo brasileiro nos trópicos, como Plácido de Castro, no Acre e Cabralzinho, no Amapá, entre outros.
Exclusão
Os grandes debates apresentados em cadeia nacional de TV e constantemente reapresentados, dificilmente contam com a participação de representantes da amazônia, mesmo quando são tratados assuntos a ela referentes.
Poluição gramatical
A Sociedade de Preservação aos Recursos Naturais e Culturais da Amazônia – SOPREN, se opõe, formalmente, ao emprego ostensivo de palavras estrangeiras impregnadas em nossa maneira de falar e escrever. Tal hábito não passa de um exemplo de colonização cultural espontânea, e que vai de encontro às leis brasileiras.
Marajó
Continua a predação e o saque de relíquias arqueológicas de Camutins - ,sem que até agora sejam atendidos ao apelos de técnicos e da população sensível ao problema. Enquanto isso, nosso passado pré-histórico vai desaparecendo.
Alerta vermelho 2
A construção de gigantescos campos de pouso no Paraguai, na fronteira com o Brasil, para receber gigantescas aeronaves americanas que transportam tropas e equipamentos militares deve deixar em alerta o povo brasileiro.
Pirataria
O navio de pesquisa americano Alpha Elix atuou no Rio Negro, com autorização do governo federal, coletando e documentando o que bem entendeu da flora e da fauna e, como norma geral, sem deixar qualquer informação ou documentação sobre os resultados obtidos.
Gangues
Como conseqüência do isolamento da região e da não presença do Estado, mesmo em pequenos núcleos populacionais, grupos de jovens se enfrentam, saqueiam e matam, sem encontrar resistência.
Cemitério de máquinas
Às margens das grandes rodovias construídas ou em construção, são encontrados verdadeiros cemitérios de máquinas pesadas, inteiramente abandonadas, caracterizando imenso desperdício e maior irresponsabilidade.
Cemitérios ocultos
O médico e pesquisador Raimundo Camurça de Menezes, da equipe da SOPREN, com experiência em assuntos amazônicos em trabalho, sob o título, “Cemitérios Ocultos em Pontos da Amazônia” , relata a existência de pequenos campos Santos, não caracterizados como tal, nem identificados, quase sempre resultantes do enfrentamento entre trabalhadores rurais, crimes de encomenda, migrantes carentes, peões, todos de fraco poder econômico e cultural. Em todos os casos, nenhuma providência foi tomada para esclarecimentos.
Pesca predatória
Na Amazônia Atlântica, na costa dos municípios paraenses de Augusto Corrêa e Bragança, a pesca da lagosta vem sendo executada livremente por pescadores vindo do Nordeste, onde a pesca está proibida, causando a diminuição e a possível extinção dos bancos lagosteiros.
Exportação de cérebros
Em recente reunião da SBPC, realizada em Belém 22 anos após a primeira, o ex-presidente da entidade Enio Candotti, afiançou: precisamos multiplicar e de modo acelerado, o números de cientistas, mestres, engenheiros sanitaristas, e pesquisadores nesta região. A Amazônia tem dois mil doutores, um décimo do que seria necessário.
Em nenhum momento foi citada a exportação de cérebros de, praticamente todas as especialidades acadêmicas da Amazônia, inclusive para o exterior, fato que ocorre há longos anos.
Corrupção
Via Brasília, a corrupção através da SUDAM, resultou no fechamento do órgão desenvolvimentista apesar de nele terem atuado técnicos de excelente padrão.
Hidrelétrica
As hidrelétricas recentemente construídas na Amazônia, apresentam erros, sendo a de Balbina, no Rio Uatumã, no Estado do Amazonas, a mais representativa. Vale lembrar o alerta de Fouchon, sob o título: “Grandes Represas, Salvadoras ou Desastres para a África”, apresentada em Nairobi, Quênia, em outubro de 1985 e citado pelo autor (C.V) em “A Saga da Cobra Grande” (Belém, 1991).
Desnacionalização
Grandes extensões de terra estão sendo compradas na Amazônia por milionários estrangeiros e multinacionais, agravando os problemas que já existem em relação a região. Será que a lei do presidente Getulio Vargas, de que o subsolo pertence ao povo brasileiro ainda está valendo?
Mais problemas
Os peruanos, nossos vizinhos de fronteiras, estão retirando grandes extensões de mata virgem no Estado do Acre, deixando grandes claros que já deveriam ter sido detectados pelos satélites. Será que o SIVAM ainda não entrou em atividade, ou está desativado? Qual será a solução para o problema?
Canabis Sativa
A região está se transformando em grande centro de produção de maconha. Referência maior é Concórdia do Pará, com extensão para municípios vizinhos. Empresários pernambucanos não compram mais terras no Pará. Trazem sementes selecionadas e pagam lavradores para o plantio em grande escala, usando técnicas diferentes das que eram usadas na região. O plantio é feito entremeado nos roçados, sendo por isso de difícil localização pelo helicóptero da Policia Militar do Pará.
Reflorestamento de cobertura
Com grande publicidade, através da mídia, foi dada ciência a quem interessar possa, que milhares de hectares, ultrapassando os 100 mil, estão sendo reflorestados com essências nativas pela Vale. Fica o questionamento, há interesse no aproveitamento de madeira ou no que está embaixo dessa suspeitíssima atividade, como acreditam os ambientalistas da SOPREN? [9]
Tiro de misericórdia
Só Deus sabe o que acontecerá com a cobertura florestal, com a fauna e com os habitantes da já questionável Maior Floresta Tropical, após a aprovação sob todos os aspectos, crime de Lesa-Pátria, da Lei de Gestão de Florestas Públicas. O que restará para as gerações futuras?
Questão indígena
Problema extremamente complexo, quase sempre abordado de forma incorreta. Tome-se como exemplo índios do rio Xingu, onde a nova geração não aceita integrar-se à tradição milenar e os idosos encontram dificuldades para transmitir hábitos, usos e costumes de seus ancestrais. Além do mais, fazendeiros, garimpeiros e madeireiros invadem os territórios indígenas sem nenhum escrúpulo, saqueando, matando, estuprando e, principalmente, disseminando entre os indígenas, doenças dos chamados civilizados, o uso abusivo da cachaça, além de negociarem seus bens naturais, sempre com prejuízo para os primitivos donos da terra.
Agressão
Os recém-chegados do Sul, Centro-Oeste e do Sudeste do país, com forte influencia política em Brasília, de grande poder aquisitivo e altamente treinados em armações, vêm comprando e expulsando de suas terras os lavradores, transformando-os em escravos e ao mesmo tempo forçando a migração para outras frentes de trabalho ou para as periferias de cidades maiores como é o caso de Belém, praticamente ocupada por legiões de sem-trabalho.
Pajelança
É tradição dos fazendeiros recém-chegados derrubar a mata para a formação de pastagens. Não foi à toa que técnico da SUDAM alardeou para a seleta, alegre e desocupada comitiva de centro-sulistas em vôo de observação sobre as áreas devastadas, que o capim Pangola que estava sendo plantado na Amazônia “merecia monumento” pela sua importância para o crescimento da pecuária e o plantio deveria ser a perder de vista, prognóstico que não deu certo, como a maioria dessas idéias estapafúrdias financiadas pelo povo brasileiro.
Pajelança 2
O douto parecer acima referido faz lembrar a convicção de ministro da agricultura que chegando a Belém nas asas do Constellation da Panair do Brasil, ao assegurar, solenemente, em cerimônia de plantio de um exemplar de castanheira em sua homenagem: “é preferível plantar calipe (eucalipto), que com 10 anos será uma árvore secular”.
Mata ciliar
É praticamente impossível encontrar nas áreas de colonização recente por centro-sulistas, qualquer remanescente de mata ciliar em rios, igarapés, lagos, lagoas, furos e paranás, pois são cortadas, pura e simplesmente, em corte raso, para expansão de pastagens, contribuindo para o desaparecimento destas fontes.
Ressecamento
Recentemente, ou melhor dizendo, no ano de 2005, o mundo levou um susto com o ressecamento de grande extensão do rio Amazonas, com a morte de milhões de peixes, causando graves problemas para os ribeirinhos o que levou ao atendimento de 400 mil deles pelo exército, marinha e aeronáutica. Teorias as mais desencontradas tentam justificar, quando na verdade foi um brado de alerta a quem interessar possa.
Fronteiras abertas
Apesar do esforço das autoridades militares com sua constante presença e vigilância, as extensas fronteiras amazônicas dificultam sua defesa, o que facilita a entrada de armas, drogas e de saqueadores de bens naturais.
Carvão 1
Assunto de escasso conhecimento pela comunidade nacional é um dos mais agressivos instrumentos de trabalho escravo de crianças e jovens, devastando grandes extensões de floresta nativa para a produção de carvão encaminhado para Minas Gerais e São Paulo, ou utilizado aqui mesmo, nas inúmeras guzeiras existentes em Marabá e Tucuruí, por exemplo.
Carvão 2
No Pará, de apenas 4 grandes carvoarias, identificadas ocasionalmente, foram exportadas nos últimos anos, milhares de carretas rumo a Minas Gerais. A movimentação dessas carretas é diuturna. Em Itacoatiara, no Estado do Amazonas, há informações de envio de carvão em pó, assunto proibido pelas autoridades de ser apresentado e discutido pela comunidade.

Sem conhecer os problemas da Amazônia é impossível defendê-la e o maior patrimônio do povo brasileiro estará perdido para sempre. Será que ainda há tempo de evitar que isso ocorra?
Camillo Vianna

Bem, meu caro Camillo, tem solução sim, desde que nós, povo da Amazônia tomemos as rédeas do poder. Já vimos que votar não é solução, a solução é na pressão do povo: bancos queimados, carros queimados, ocupação e destruição de prédios públicos e de luxo, ocupação e destruição de fazendas de gado e soja, de madeireiras e de empresas de mineração, de carvoarias, destruição de hidrelétricas, controle da entrada de brasileiros de outras regiões e expulsão dos estrangeiros que se encontram na Amazônia. Só quem pode mudar isso somos nós o povo!




[1] - Também concordo que os nordestinos, principalmente os cearenses, foram muito importantes para a história da ocupação da Amazônia. Mas, os nordestinos que agora vão para a região, vão para saquear, para destruir em busca de dinheiro fácil. Pernambucanos, baianos e outros estão na região para o saque, e queremos eles fora da Amazônia (nota de Otto Mendes)

[2] - E quando não fica, os projetos que o Poder Central reserva para a região são sempre ruins, pois, não levam em conta o ambiente e só visa a riqueza de poucos, que geralmente nem são da região e nunca vieram aqui. (nota de Otto Mendes)
[3] - Muitos paises se dizem democráticos, mas, não o são, o Brasil por exemplo é um deles, mas, os piores soa os EUA e Israel que se denominam democráticos, mas, na prática tem governos nazi-facistas. (nota de Otto Mendes)
[4] - Mas, para o cientista-presidemente Lula não passa de uma coceirinha. (nota de Otto Mendes)
[5] - Incluam ai o PAC. (Nota de Otto Mendes)
[6] - Aqui, em Pernambuco, podemos observar milhares de lojas vendendo madeira roubada do Norte do Brasil. (nota de Otto Mendes)
[7] - Seria mais fácil se o Brasil saísse da ONU, que não serva para nada, e da Organização Mundial do Comércio, que não passa de um órgão do governo norte-americano. (nota de Otto Mendes)
[8] - pena que esse desenvolvimento só atingiu a poucos. (nota de Otto Mendes)
[9] - Não tenho dúvidas em afirmar que as intenções da Vale são as piores possíveis, pois se trata de uma gangue e não de uma empresa. (nota de Otto Mendes)