quinta-feira, 24 de maio de 2007

7º Assembléia do Povo Xukuru do Ororubá


Por Otto Mendes
Entre os dias 17 e 19 de maio de 2007, aconteceu na Serra do Ororubá, a sétima Assembleia do Povo Xukuru. Dessa vez foi na aldeia Capim de Planta, pois a cada ano este evento ocorre numa aldeia diferente. Mesmo sendo uma região baixa, fica na região denominada de Ribeira, geralmente mais seca e quente que a área da serra, mas, nesta época do ano, quando começam as chuvas, mesmo Capim de Planta faz frio a noite, o que torna a noite de sono muito mais agradável.
O tema da assembléia foi: "Terra: reviver a cultura, a partilha e os Encantados". Eles preferiram usar o termo "reviver" do que "resgatar", pois, se pode resgatar coisas mortas ou destruídas, mas, "reviver", só coisas vivas. Os Xukuru tem consciencia de que muitas coisas do passado podem ser revividas hoje, como a partilha, outras não. Também há a preocupação em mostrar a toda a comunidade de como foi construído o projeto político e econômico de recuperação do território Xukuru.
O primeiro dia, 17 de maio, foi marcado com a chegada dos Xukuru de outras aldeias. cada aldeia escolhe 10 representantes, mas, quem quiser participar pode ir tranquilamente. O evento começou com a aciolhida do representante de Capim de Planta, o Galego, que desejou as boas vindas a todos que estavam ali presentes. depois foi a vez do pajé Zequinha e outras lideranças religosas abençoarem aquela assembleia. Agnaldo, professor e liderança de Pé de Serra, fez uma retrospectiva das assembleias anteriores. No final do dia, o assessor jurídico do CIMI-NE falou de como se organiza a sociedade brasileira e Agnaldo falou como funciona a organização interna do povo Xukuru. A noite, o Toré finalizou com chave de ouro os trabalhos do dia.
Na sexta, 18 de maio, ouve analise de conjuntura a nivel local, estadual, nacional e internacional, cujo os palestrantes foram o cacique Marcos (as duas primeiras) e Roberto Saraiva, do CIMI-NE, as duas segundas, e a preocupação maior foi o PAC, que se for implementado, trará sérios prejuízos humanos e ambientais. Em Pesqueira, municipio onde se localiza o território Xukuru, está sendo construída uma usina de biodiesel, e o governo federal quer que os indígenas participem fornecendo mamona para a usina. Antes do almoço, Roberto saraiva e dona Zenilda, viuva do cacique Xicão e mãe do cacique Marcos, falaram sobre o Terra-Toré (que aconteceu entrwe os dias 10 e 13 de maio, em Pankará, Pernambuco) e Otto mendes do CIMI-NE falou um pouco sobre o acampamento Terra-Livre, ocorrido em Brasília, em abril passado. depois do almoço, o melhor do dia: o depoimento dos velhos, que falaram como era a vida antigamente, de como os indígenas partilhavam seus bens, como nasciam, como eram enterrados, como trabalhavam e trocavam mercadorias. Foram depoimentos muito ricos em detalhes, que deixou a platéia em silêncio. Uma das características dessa assembléia, foi a presença maciça de jovens Xukuru, o que foi muito bom, pois puderam aprender com os mais velhos e participar mais da vida política do povo Xukuru. Foram formados grupos, um só com crianças, outro só com jovens, mulheres, homens, para discutir como o Povo Xukuru vai fazer e está fazendo para consolidar seu dominio sobre seu território. A noite foi o momento de Pirrila e seu samba de coco, que levantou poeira no local da assembléia.
O dia 19 de maio, foi marcado com a apresentação dos povos indígenas presentes (Potiguara, da Paraíba; Kambiwá, Pipipã, Atikum, Truká de Pernambuco) dos grupos e com uma emocionante homenagem dos Xukuru-Kariri para o Povo Xukuru, onde Xicão e Maninha foram lembrados e a aliança entre os dois povos foi confirmada. No final foi a vez do documento final da assembléia ser lido e aprovado (este documento está publicado a seguir). Agora, era só esperar para no outro dia todos poderem prestar homenagem ao grande cacique Xicão,l na descida da serra para Pesqueira. Fomos dormir em paz.
VII ASSEMBLÉIA DO POVO XUKURU


REVIVER A CULTURA, A PARTILHA E A FORÇA DOS ENCANTADOS

LOCAL: ALDEIA CAPIM DE PLANTA
DATA: 17 a 19/05/2007

Nós, povo Xukuru do Ororubá, protegidos pelas forças dos nossos encantados e da natureza sagrada, nos reunimos na nossa VII Assembléia e discutindo sobre o tema “Reviver a cultura, a partilha e a força dos encantados”, decidimos coletivamente que o nosso projeto de futuro tem como princípios:

1. A terra é a nossa mãe. É dela que tiramos a força para continuar vivendo como Xukuru;

2. O território deve ser utilizado de forma coletiva, cuidando da natureza sagrada;

3. A riqueza que a nossa terra dá deve ser partilhada e não deve ter entre nós desigualdade social;

4. As relações pessoais devem ser respeitando uns aos outros e a convivência do dia-a-dia baseada na solidariedade;

5. As decisões devem ser tomadas de forma coletiva, ouvindo os mais velhos, a comunidade e a nossa organização social;

6. Continuar sendo um povo organizado e lutador pelos nossos direitos;

7. Todo Xukuru tem direito a ter moradia, saúde, alimentação e educação de qualidade;

8. A fé do Povo Xukuru se sustenta no ritual sagrado, nas forças de Tupã e Tamain e nos encantos de luz;


9. Todo índio Xukuru deve respeitar e valorizar os espaços sagrados, as festas e os rituais da tradição;

Reafirmamos nossa certeza na inocência dos nossos irmãos Zé de Santa e Dandão, acusados injustamente do assassinato de nossa liderança Chico Quelé e pedimos a Tupã e Tamain que revelem os verdadeiros culpados desse crime.

Exigimos que parem imediatamente de perseguir nossas lideranças. Não deixaremos de denunciar e exigir a punição de todos aqueles que nos perseguem.

E, entendemos que para garantir o projeto de futuro é preciso:

1. Garantir o território livre;

2. Ter condições para trabalhar a terra;

3. Que a educação e saúde respeitem os nossos valores;

4. União, respeito, partilha e solidariedade;

5. Continuar organizados e na luta;

6. Igualdade de oportunidades;

7. Respeito às decisões das assembléias e às organizações internas Xukuru.

E como disseram os nossos anciãos e anciãs “ a nossa assembléia é um momento de partilha abençoada pela força dos nossos encantos, a natureza muito nos ensina e a luta também”


Aldeia Capim de Planta, 19 de maio de 2007.



Nenhum comentário: